Reunião do dia 25 de Maio de 2012
Aforismo 215 - Moral dos animais de sacrifício.
Como podemos ver anteriormente em nossas
reuniões, Nietzsche parece estar atento à questão da moral do sacrifício, e para
reforçar o que nosso filósofo propõe com o aforismo 215 acredito ser válido ler
novamente o que ele escreve no aforismo 18, disponível aqui em nosso Blog.
Basta clicar nas palavras destacadas
para mais informações.
Para compreendermos esse aforismo
devemos olhar um pouco mais atentamente para o título que Nietzsche escolheu - Moral
dos animais de sacrifício – e nos perguntarmos, quem são os animais?
Nosso filósofo escreve acerca de dois
tipos de sacrifícios, um deles é o sacrifício religioso onde pontua: “Na verdade, vocês apenas parecem
sacrificar-se: convertem-se em deuses no pensamento e fruem a si mesmos como
tal.”. Apontando que a intenção que vêm antes do sacrifício religioso é em
prol de uma fruição de poder, o vincular-se com Deus como algo de grade egoísmo
e desonestidade, uma vez que o que se visa não é o que se propõe. “Pois, ao dedicar-se entusiasticamente a ela
e sacrificar-se, fruem o inebriante pensamento da união com o poderoso, homem,
ou deus, ao qual se consagram: regalam-se no sentimento do seu poder, novamente
testemunhado por um sacrifício.”.
Para que possam visualizar melhor tal ideia
basta nos lembrarmos da imagem que foi postada anteriormente em nosso blog intitulada
como “O Êxtase de Santa Teresa”.
A outra visão que Nietzsche busca trazer
a tona é a moral do sacrifício daqueles que visam à racionalidade, uma vez que
é necessária uma disciplina forte para alcançar o autodomínio exigido e
escreve: “Do ponto de vista dessa fruição
– como lhes parece fraca e pobre a moral “egoísta” da obediência, da obrigação,
da racionalidade: ela lhes desagrada, porque aí realmente tem de haver
sacrifício e devoção, sem que o sacrificante se imagine transformado em deus,
como imaginam.”. Essa devoção à racionalidade pode exigir uma disciplina
forte e sacrifícios, porém, a pretensão aqui é outra.
E conclui com a seguinte colocação: “Em suma, vocês querem a embriaguez e a
desmesura, e a moral que desprezam ergue o dedo contra a embriaguez e a
desmesura – eu bem acredito que ela lhes cause mal-estar!”.
Concluindo com a percepção de que Nietzsche
parece defender o autocontrole e a disciplina, o controle de si mesmo e
determinação de si, que seria o oposto do que narra com a concepção de relação
mística e com a embriaguez da religião, mas não se enquadra em nenhuma dessas
visões, como é de sua prática, apenas narra comportamentos.
Aforismo 221 - Moralidade do sacrifício.
Quando Nietzsche escreve: “A
moralidade que se mede conforme o grau de sacrifício é aquela do estágio
semi-selvagem.”, ele busca apontar que a moralidade vigente que visa o
sacrifício tem suas raízes no estágio semi-selvagem, ou seja, anterior à
racionalidade, onde se acreditava que para se obter determinados benefícios dos
deuses era necessário praticar o ato do sacrifício e do sacrificar-se. Novamente
vale lembrar que já trabalhamos essa questão anteriormente em nossas reuniões e
os resumos acerca da visão de Nietzsche sobre o sacrifício está disponível aqui
em nosso blog.
O segundo ponto desse aforismo se dá com o debate entre impulsos e razão,
também já trabalhado anteriormente em nossas reuniões, disponível no resumo do aforismo 109 onde tratamos as seis formas de combater os impulsos, aqui ele coloca: “A razão obtém, no caso, apenas uma vitória
difícil e sangrenta no interior da alma, há contra-impulsos violentos a serem
derrotados; sem uma espécie de crueldade, como nos sacrifícios que exigem os
deuses canibais, isto não acontece.”. O que ele diz com isso é que para
conseguirmos dominar tais impulsos violentos tornou-se necessário a prática de grandes
sacrifícios e é exatamente aqui que nosso filósofo coloca sua crítica. O valor
que se dá à dominação de determinados impulsos se mede com a quantidade ou
grandiosidade de sacrifícios que fazemos em prol dele.
Leituras necessárias para reunião do dia 01 de
Junho:
Aforismo 246 -
Aristóteles e o casamento.
Aforismo 263 - A
contradição em corpo e alma.
Aforismo 272 - A
purificação da raça.