sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Aforismo 575. Aurora.


Reunião do dia 07 de Dezembro de 2012

Com essa postagem encerramos a leitura de Aurora, mas antes de começar a falar sobre o aforismo vamos nos recordar do que foi dito em nossa primeira reunião.
“As primeiras anotações do que viria a ser Aurora foram feitas no início de 1880, quando Nietzsche se achava em Riva del Garda, no Norte da Itália. Depois prosseguiram em Veneza, porém, foi apenas em Gênova, no inverno de 1880-81, que elas tomaram forma de livro. Gênova, terra de Cristóvão Colombo. Será que assim como Colombo não estava o próprio Nietzsche navegando em busca de novos horizontes? Novas ideias? Novas auroras?”

Assim como começa o livro trazendo essa expectativa sobre novas auroras, novas terras por conhecer, Nietzsche encerra seu livro novamente usando tais imagens, mas dessa vez com outro tom, podemos notar isso analisando seu último aforismo.


Aforismo 575 – Nós, aeronautas do espírito!

“Todos esses ousados pássaros que voam para longe, para bem longe – é claro! em algum lugar não poderão mais prosseguir e pousarão num mastro ou num recife – e ainda estarão agradecidos por essa mísera acomodação! Mas quem poderia concluir que à sua frente não há mais uma imensa via livre, que voaram tão longe quanto é possível voar?”


Como sabemos a filosofia madura de Nietzsche começam a tomar corpo em A Gaia Ciência (1882), mas é seguro afirmar que seus germes já estão presentes em Aurora (1881). Temas como a morte de Deus e eterno retorno podem ser encontrados nesse aforismo que estamos trabalhando. A falta de referenciais e o voar eternamente nos deixam pistas disso. No encontro realizado em 2012 do GIRN, Grupo Internacional de Investigação sobre Nietzsche, que teve como foco a obra Aurora tal constatação foi unânime, aqui Nietzsche ainda não tem uma forte tomada de posição, mas já existe um aprimoramento de seus conceitos, uma movimentação.


Interessante chamar a atenção para o fato de que juntamente com A Gaia Ciência, Aurora é tida por Nietzsche como sua obra mais pessoal e a que lhe era mais simpática. Cito uma nota do posfácio de Paulo César de Souza:


 “Numa carta que enviou à sua irmã em Julho de 1881, recomendou-lhe que o lesse de um ponto de vista pessoal, algo que desaconselhava para outros leitores. E que lesse principalmente o livro V onde há ‘muita coisa entre as linhas’. Em aparente contradição a ele, acrescentemos uma recomendação àquela que faz no final do prólogo: não apenas o leiam devagar, mas também nas entrelinhas, buscando o que é pessoal-universal – pois ás vezes esses dois objetivos não se excluem”.


Sabemos que em Aurora Nietzsche deixa transparecer suas vivências e suas experiências, tema esse que vira tema de alguns aforismos que navegam contra a concepção de alguns filósofos como Kant, por exemplo, que faz questão de tentar excluir todo seu lado pessoal em seus escritos, Nietzsche por outro lado, faz o oposto. Se nos recordarmos desse fato, fica um pouco mais clara a interpretação de todo o aforismo, aqui o filósofo se faz presente.


Voltemos então para o aforismo:


“Todos os nossos grandes mestres e precursores param, afinal, e não é com o gesto mais nobre e elegante que a fadiga se detém: assim também será comigo e com você! Mas que importa a mim e a você! Outros pássaros voarão adiante!”


Com essas palavras podemos perceber novamente por onde Nietzsche caminha na concepção de sujeito, “que importa a mim e a você”, o que importa é a tarefa que será realizada.


“Esta nossa ideia e crença porfia em voar com eles para o alto e para longe, sobe diretamente acima de nossa cabeça e de sua impotência, às alturas de onde olha na distância e vê bandos de pássaros bem mais poderosos do que somos, que ambicionarão as lonjuras que ambicionávamos, onde tudo é ainda mar, mar e mar! – E para onde queremos ir, então? Queremos transpor o mar? Para onde nos arrasta essa poderosa avidez, que para nós vale mais que qualquer desejo? Por que justamente nessa direção, para ali onde até hoje todos os sóis da humanidade se puseram nós, rumando para o Ocidente, esperávamos alcançar as índias – mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou então, meus irmãos? Ou?”


Onde afinal queremos pousar nós que voamos? Podemos ler no decorrer do aforismo que Nietzsche ressalta três possibilidades, uma seria navegar eternamente ao infinito, outra seria aportar e uma terceira seria “naufragar”. E como já comentamos, faz novamente referência a Colombo dando margem à associação feita em nossa primeira postagem, aqui mencionada.


Nietzsche finaliza os escritos de Aurora, já anunciando o Zaratustra, com uma imensidão de perguntas que só serão respondidas em A Gaia Ciência, que será escrito em 1883/85. O nome Zaratustra é um dos muitos trocadilhos presentes no livro e se refere mais claramente à imagem do Sol vindo além do horizonte ao amanhecer, como a simples noção de vitória. Além dessa nova aurora em Zaratustra encontramos também a famosa frase “Deus está morto”, apesar desta também aparecer anteriormente em A Gaia Ciência. Olhando dessa forma, não estão essas três obras em uma mesma sincronia?


Concluo o resumo chamando a atenção para alguns detalhes de Aurora e recorro ao posfácio para tal, indico sua leitura na integra devido ao fato de o mesmo estar inserido no livro e trazer pontos relevantes para discussão, no entanto gostaria de frisar que Paulo César de Souza não é um comentador e sim um tradutor, de qualquer forma a leitura de seu posfácio é indicada como leitura complementar.


“Tomando a tradicional divisão da obra de Nietzsche em três períodos, este livro se inscreve no período intermediário ou “positivista”, inaugurado por Humano, demasiado humano (1878). No entanto, algo que o diferencia deste e de seus dois complementos, Opiniões e sentenças várias (1879) e O Andarilho e sua sombra (1880), e que representa mais um passo na libertação da influência de Wagner e Schopenhauer, é a ênfase dada por Nietzsche à “paixão do conhecimento”. Essa nova paixão é entendida, num plano universal, como o impulso em que a humanidade mesma sacrifica-se em prol do conhecimento (cf. seções 45 e 429), algo que o autor viria a chamar de “vontade de verdade” (Além do bem e do mal, aforismo 1).”


O que será que nos aguarda a sequência de Aurora?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Reunião do dia 14 de Dezembro de 2012

Convidamos todos para nosso último encontro de 2012 do Grupo de Estudos Nietzsche da UFPel que acontecerá na Sexta-Feira, dia 14 de Dezembro. 

Horário: 17h
Local: Departamento de Filosofia, sala 212.

Vamos encerrar o estudo da obra Aurora com a leitura do texto de Marco Brusotti intitulado

Tensão: Um conceito para o grande e o pequeno 

Vale ressaltar que iremos nos ater as primeiras partes do artigo (35-46), segue o link: