Reunião do dia 11 de Maio de 2012
Aforismo
173 - Os apologistas do trabalho
Não é por acaso que Nietzsche é um dos
filósofos mais lidos da contemporaneidade e tal fato se faz compreensível
devido a sua forma ácida e crítica de pensar, narrada através de seus livros.
No aforismo 173, Os apologistas do trabalho, ele não trai sua fama, aqui,
novamente, ele trás a tona um tema que pode facilmente ser debatido nos dias de
hoje.. a glorificação do trabalho. Através de um processo histórico uma
inversão de valores é notável, o ócio que antes era tido como benefício hoje é
visto como algo prejudicial ou negativo, basta olharmos para o passado para
notar tal distinção. Para que possam melhor visualizar tal ideia busquem a
memória a Grécia antiga. Em que momento então ocorre essa inversão?
Historicamente isso se dá através da revolução industrial, na primeira metade
do século XIX, porém a Alemanha, terra de nosso filósofo, é um pouco tardia
nesse aspecto, lá essa inversão ocorre na segunda metade do século XIX, que é a
época de Nietzsche e ele estava atento para essas mudanças, podendo perceber
com grande sutileza tal inversão de valoração moral, onde o trabalho passou a ser considerado como algo grandioso e
glorificador, quanto mais um homem trabalha mais honrado ele é, o trabalhar era
(já em sua época) tido como uma "benção". Porém, qual é o real papel
do trabalho? Para nosso filósofo o trabalho é ferramenta de cegueira,
impossibilitando os indivíduos de possuírem autonomia refletiva, mas ele não
para por ai, além de tratar sobre essa impossibilidade ele narra a dificuldade
na criação artística e intelectual. Esse tema não é novo, no jovem Nietzsche já
vemos reflexões acerca da criação do gênio e definitivamente ele não acreditava
que o trabalho colaborava para isso, muito pelo contrário, o ócio é necessário
para o ato de reflexão e criação. Como podemos depois de trabalhar 12 horas por
dia chegar em nossas casas e ainda ter tempo para apreciar uma sinfonia de
Beethoven, por exemplo?
Qual
seria a consequência de tal postura? O que acarreta ao homem essa laboriosidade
moderna? O que podemos ver hoje nitidamente é um perfil de trabalhadores
compulsivos, ou workaholic, onde o trabalho é tido como algo que enobrece,
Nietzsche aponta isso como uma valoração moral e coloca sua posição como um
anticapitalismo romântico, valorizando o ócio para a criação filosófica e
artística, pois de acordo com ele é impossível surgirem filósofos, gênios e
criadores uma vez o indivíduo enredado nessa visão social de que o trabalho é
não só algo necessário como trivial para a vida, pois tal atividade consume
muita energia nervosa e não há tempo para reflexões. Pode-se notar uma
perspectiva nobre na visão do filósofo e ele narra também a perspectiva da
modernidade espelhada pelos apologistas do trabalho que se dá não apenas na
tradição luterana e moral, mas também com os próprios socialistas, onde o
trabalho é colocado como categoria central para a emancipação do homem,
Nietzsche então coloca, "terá mais segurança uma sociedade que trabalha
duramente: e hoje se adora a segurança como a divindade suprema." O
homem moderno quer a segurança acima de tudo e o trabalho organizado e bem
estruturado propõe esse sentimento de segurança e bem estar social, porém a
situação moderna é que os trabalhadores passam a exigir seus direito "E
então! Que horror! Precisamente o "trabalho tornou-se um perigo! Pululam
os "indivíduos perigosos! E por trás deles o perigo maior - o indivíduo!".
Aforismo 179 - O mínimo
de Estado possível!
Tomemos
o resumo acima como pressuposto para o que vamos tratar nesse aforismo. Aqui
Nietzsche segue a mesma linha crítica que vimos no aforismo estudando
anteriormente, e escreve: “Nenhuma
situação política e econômica merece que justamente os mais talentosos
espíritos se ocupem dela.”.
Mais adiante no mesmo aforismo podemos ver novamente a
referência que faz ao sentimento de segurança que tal a situação narrada no
resumo acima gera nos indivíduos: “O
preço que se paga pela “segurança geral” é muito alto: e, o que é mais insano,
com isso produz-se o oposto da segurança geral.”.
Conclui com as seguintes colocações: “Tornar a sociedade a prova de ladrões e de
incêndio e infinitamente cômoda para qualquer trato e troca, e transformar o
Estado numa espécie de providência, no bom e no mau sentido – estes são
objetivos baixos, moderados e nada imprescindíveis, que não se deveria buscar
como os mais altos meios e instrumentos que existem – os meios que se deveria
guardar para os mais altos e raros fins! Nossa época, embora fale tanto de
economia, é esbanjadora: esbanja o que é mais precioso, o espírito.”.
Faz-se a reflexão, será a contemporaneidade diferente
da época de nosso filósofo?
Indicação de leitura:
Leituras necessárias para o encontro do dia 18 de Maio:
Livro
III:
Aforismo
184 - O Estado como produto dos anarquistas.
Aforismo
189 - A grande política.
Aforismo 207
- Atitude dos alemães ante a moral.