sábado, 26 de novembro de 2011

Aforismo 261 - Os tiranos do espírito


Neste aforismo Nietzsche apresenta a tirania dos filósofos gregos, por exemplo Platão, um dos filósofos primeiros que impõe a verdade. Platão sendo lido como tirano demonstra a ideia de imposição de seu pensamento. A tirania e a oligarquia na filosofia nitzschiana são consideradas decadentes, e a democracia uma forma corrompida. Para Nietzsche, Platão foi um filósofo perdido, pois considerava que ele tinha uma alma nobre, mas foi corrompido por Sócrates.
"Esses filósofos [gregos] tinham uma sólida fé em si mesmos e em suas 'verdades', e com ela derrubavam todos os seus vizinhos e precursores; cada um deles era um belicoso e violento tirano. (...)Platão foi o desejo encarnado de se tornar o supremo filósofo-legislador e fundador de Estados. (...) Não é uma questão ociosa imaginar se Platão, permanecendo livre do encanto socrático, não teria encontrado um tipo ainda superior de homem filosófico, para nós perdido para sempre."

Questão: Como inserir um espírito livre a partir da imposição dos gregos?
Nietzsche defende uma saida: o que o homem fizer com a sua vida, influenciará no jogo das forças subsequentes. A vida passada como niilista terá um impacto, aquilo que formos terá um impacto na sociedade. Isto está nas nossas mãos (particularmente de cada um), sem um imperativo para isso.

Aforismo 237 - Renascimento e Reforma


"O Renascimento italiano abrigava em si todas as forças positivas a que devemos a cultura moderna: emancipação do pensamento, desprezo das autoridades, triunfo da educação sobre a arrogância da linhagem, entusiasmo pela ciência e pelo passado científico da humanidade, desgrilhoamento do indivíduo, flama da veracidade e aversão à aparência e ao puro efeito (...)"
Aqui Nietzsche apresenta o que de positivo viria com o Renascimento, o que traria de mudança dos valores para a cultura moderna. Lutero com a Contra-Reforma atrasa este processo; quase três séculos de atraso do "despertar e domínio da ciência".

"Foi o acaso de uma constelação política excepcional que preservou Lutero e fez o protesto ganhar força (...). Sem esse estranho concerto de objetivos, Lutero teria sido queimado como Hus - a aurora do Iluminismo teria surgido, talvez um pouco antes, e com brilho mais belo do que agora podemos imaginar."
Nietzsche não concorda com o estabelecimento do estado democrático, e para ele, no Iluminismo estavam as ferramentas para destruir este estado, e se não fosse Lutero, este Iluminismo teria chegado ainda antes.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aforismo 225 - O espírito livre, um conceito relativo


"É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e fundação, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é a exceção, os espíritos cativos são a regra (...)."
O espírito livre abordado por Nietzsche é sempre relativo ao espírito cativo. O espírito livre para ele, é aquele que está liberto das convenções, das amarras da vida em comunidade, não está ligado a moral, é aquele que pode chegar a verdade por meios imorais, que tem a verdade ou que tem o espírito da busca da verdade, com ânsia de ser notado. Relativos aos espíritos livres, os espíritos cativos, para Nietzsche, são aqueles que assumem uma posição por hábito e não por razão, temem os espíritos livres e têm senso de comunidade, com uma estreiteza de possibilidades.
Comparado ao espírito cativo, o espírito livre é sempre débil, eles observam as dificuldades e multiplicam as possibilidades; já os cativos têm os motivos ao seu lado e o apoio da tradição.

Capítulo 5 - Aforismo 224 - Enobrecimento pela degeneração


"A história ensina que a estirpe que um povo conserva melhor é aquela em que a maioria dos homens tem um vivo senso de comunidade, em consequência da identidade de seus princípios habituais e indiscutíveis, ou seja, devido a sua crença comum."
Neste capítulo onde Nietzsche lança os sinais de cultura superior e inferior, emprega neste aforismo a formação dos hábitos de cada indivíduo.

"As naturezas degenerativas são sempre de elevada importância, quando deve ocorrer um progresso(...). O homem doentio, por exemplo, numa estirpe guerreira e inquieta, poderá ter mais ocasião de estar só e assim se tornar mais tranquilo e sábio, o caolho enxergará mais agudamente, o cego olhará para o interior mais profundamente, e em todo caso ouvirá com mais apuro."
Para Darwin, são os aptos que triunfam numa comunidade. Aqui vemos uma crítica a Darwin, pois Nietzsche defende que para haver uma forte natureza é necessária uma natureza degenerativa. Esta natureza degenerativa é necessária para seu crescimento, onde o mais fraco tende a se tornar o mais forte. As naturezas mais fortes garantem o tipo (conjunto de características) e as mais fracas desenvolvem-o; de indivíduos mais independentes, inseguros e moralmente fracos que nasce o progresso espiritual, pois experimentam o novo e o diverso.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

221 – A revolução na poesia

"- A severa coerção que se impuseram os dramaturgos franceses, com respeito a unidade de ação, de tempo e lugar, ao estilo, à construção do verso e da frase, à escolha de palavras e pensamentos, foi uma escola tão importante como a do contraponto e da fuga na evolução da música moderna, ou como as figuras de Górgias na eloquência grega."
Nietzsche ressalta neste aforismo a proximidade poética entre os franceses e os gregos. Notamos a arte contemporânea se perdendo, pois tudo já está criado, e voltando ao início da sua experimentação.

"Aos próprios franceses faltaram, depois de Voltaire, os grandes talentos que teriam prosseguido com a evolução da tragédia, da coerção à aparência de liberdade (...)"
Aqui Nietzsche faz uma defesa de Voltaire. E notamos no aforismo que mantém seu posicionamento a respeito de Shakespeare, onde destaca uma citação de Byron: "Considero Shakespeare o pior modelo, embora o mais extraordinário dos poetas."

Logo no aforismo 222 (O que resta da arte), aborda que a arte vinculada a metafísica também ja perdeu seu espaço, assim como a religião. Cita que "O homem científico é a continuação do homem artístico." Em seguida, no aforismo 223 (Crepúsculo da arte), ressalta que em breve iremos deparar o artista como "vestígio magífico (...) cuja força e beleza dependia a felicidade de tempos passados...", e termina o aforismo e também o capítulo considerando que "o sol já se pôs, mas o céu de nossa vida ainda arde e se ilumina com ele, embora não mais o vejamos."

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aforismo 162 – Culto ao gênio por vaidade



No aforismo 153 Nietzsche começa a falar sobre o gênio, e neste aforismo ele desenvolve mais sua ideia. Aqui ele trata que o culto ao gênio e sua admiração a distância é enganoso, pois diz ser parte da vaidade do homem que por amor-próprio cultua o gênio de longe. E, ao não sentir desejo de inveja ou significar o gênio como “divino”, o homem está dizendo que a competição não é necessária.
“Mas, não considerando estes sussurros de nossa vaidade, a atividade não parece de modo algum essencialmente distinta da atividade do inventor mecânico, do sábio em astronomia ou história, do mestre na tática militar.”

“E além disso: tudo o que está completo e consumado é admirado, tudo o que está vindo a ser é subestimado.”

Podemos observar Nietzsche como um apreciador crítico, preocupado com o artista em seu vir-a-ser. O gênio, por exemplo, não é mais algo sobre-humano, mas é aquele que faz parte de um processo de construção. Nesse sentido, os criadores do futuro deveriam ser mais apreciados.





Obs: nesse vídeo é apresentado o processo de criação de Paul Jackson Pollock e um relato do próprio pintor sobre sua maneira de criar.

Aforismo 150 – Vivificação da arte


“A arte ergue a cabeça quando as religiões perdem terreno. Ela escolhe muitos sentimentos e estados de espírito gerados pela religião, toma-os ao peito e com isso torna-se mais profunda, mais plena de alma, de modo que chega a transmitir elevação e entusiasmo, algo que antes não podia fazer.”
Neste aforismo percebemos que Nietzsche aborda decididamente a transição da religião para a arte. Com o Iluminismo o sentimento lança-se para a arte, e, até mesmo na vida política e na ciência. A ilusão e a mentira da religião podem ser vistas como necessárias para que a vida se tornasse mais bela, para que esse desvio de olhar fosse proveitoso para o homem.

“Sempre se nota, nos empenhos humanos, uma coloração mais intensa e mais sombria, pode-se presumir que o temor de espíritos, aroma de incensos e sombras da Igreja ali permaneceram.”

Nietzsche aborda que mesmo com esse desvio de olhar para a arte, onde a arte pôde ganhar vida, ainda restaram as sombras da religião, e que era preciso se livrar destas sombras nesta vivificação da arte.