quinta-feira, 10 de maio de 2012

Aforismos 112, 115, 116 - Livro II

Reunião do dia 27 de Abril de 2012


Aforismo 112 - Contribuição à história natural do dever e do direito. 

Como já sabemos, em Aurora Nietzsche não busca formar conceitos e sim trilhar novos caminhos experimentais, nesse aforismo fica nítido que o filósofo começa a melhor desenvolver seu conceito de vontade de poder, porém, tal ideia ainda não ganha corpo, é apenas um vislumbre do que no decorrer de suas obras e pensamento ele melhor estruturará.

Dois pontos valem a pena serem ressaltados com relação a esse aforismo. Primeiro que Nietzsche não faz referências históricas determinadas, dando margem a interpretação de que sua narração seja válida para qualquer período histórico. Segundo com relação à escrita que o filósofo utiliza, além de criar expressões por conta própria, ele dá uma nova releitura a palavras antigas, tornando necessário certo cuidado ao ler sua obra, palavras entre aspas e itálicos trazem conotações diferentes.

Os temas trabalhados nesse aforismo são em demasia abrangentes e complexos, por consequência, algumas questões permaneceram em aberto para debate e questionamento, vamos tentar nesse resumo trazer os pontos principais do que foi estudado e deixar o espaço dos comentários abertos para perguntas e discussões.

O erro do livre arbítrio: Como podemos perceber a partir das seguintes linhas "O mesmo erro bem poderia se achar em ambos os lados: o sentimento do dever depende de partilharmos, nós e os outros, a mesma crença quanto á extensão de nosso poder: de sermos capazes de prometer determinadas coisas, de nos comprometermos em relação a elas ("livre arbítrio")." Nietzsche aponta como um erro a ideia de livre arbítrio, erro este que alicerça toda a organização de poder, porém, ressalta que tal erro se faz necessário, sendo esse mesmo erro algo positivo e benéfico, sem o qual a vida em sociedade seria impossível, caso contrário haveria uma guerra de todos contra todos. Um questionamento que aparece seria a definição de liberdade e livre arbítrio e o que difere esses dois conceitos em Nietzsche, ou até mesmo o questionamento se existiria livre arbítrio na visão do filósofo, fazendo a relação com o aforismo 109 intitulado "Autodomínio e moderação, e seu motivo ultimo" onde o filósofo aponta as seis maneiras de manipulas os impulsos.

A ideia de poder: A visão de Nietzsche acerca da justiça, direitos e deveres é significativa para a construção da concepção de vontade de poder, sendo esta última um jogo de forças. A justiça não necessariamente visa um bem comum social e sim quem tem a maior força para criar tais direitos e deveres, no caso, a balança pesa a distinção de poder, os direitos e deveres serão medidos em comunhão com o poder exercido. Nota-se que se não existem deveres a moral se perde. Uma forma de exemplificar tal concepção é a figura de Napoleão.

Em relação à  moral: surge da ação de "escapar aos perseguidores e ser favorecido na busca da presa" (página 29 - aforismo 26); habitua-se aos costumes de determinada comunidade e em última instância está vinculada aos impulsos. Futuramente será disponibilizada uma postagem dedicada unicamente em explicar a questão dos impulsos.

Para a questão do orgulho faço uma conexão entre Nietzsche e La Rochefoucauld, é válido pensá-lo da seguinte maneira, sendo o orgulho o maior defensor do "amor próprio", uma vez tomando o "amor-próprio" como o maior dos aduladores no homem.

Os impulsos enquanto um se sobrepondo ao outro, onde o mais forte subjuga um mais fraco, criando um dinamismo de criação e aniquilação de impulsos. Creio ser válido fazer uma ligação com a máxima 10 do livro “Máximas e Reflexões” de La Rochefoucauld onde ele escreve "Há no coração humano uma germinação perpétua de paixões, de modo que a ruína de uma é quase sempre o estabelecimento de outra." Através da leitura do aforismo a pergunta que se faz é: o impulso possui poder de escolha?

Relação Prática e Boa vontade: São através das seguintes palavras que se surgem os maiores questionamentos acerca desse aforismo: 
"- O "homem justo" requer, continuamente, a fina sensibilidade de uma balança: para os graus de poder e direito, que, dada a natureza transitória das coisas humanas, sempre ficarão em equilíbrio apenas por um instante, geralmente subindo ou descendo: - portanto, ser justo é difícil, e exige muita prática e boa vontade, e muito espírito muito bom. -". 
Sou livre para praticar? Que boa vontade é essa? Qual é a possibilidade de dominação de impulsos para a prática através dessa "boa vontade"? Pois aqui ele abre a possibilidade da prática, o que implicaria na dominação de determinados impulsos. O que seria o espírito bom? Seria uma combinação de forças? 

Aforismos 115 - O assim chamado "Eu".
Aforismo 116 - O desconhecido mundo do "sujeito".

Nietzsche está levando a discussão para fora do caráter da escolha colocando os impulsos, ou instintos, como soberanos e desvincula o conhecimento das coisas com os atos morais, pensamento este que gera ao filósofo a consideração de “imoralista”, pois para a moral existe a possibilidade de escolha, liberdade essa que Nietzsche desconsidera. Para clarear o que estamos tratando basta visualizar a figura de Napoleão e compreender que ele não poderia agir diferente da maneira que agiu, pois não existia outra possibilidade de escolha. Nessa perspectiva, como a racionalidade atua?

Para melhor compreender a questão da racionalidade voltemos para o primeiro aforismo do livro I, intitulado Racionalidade a posteriori onde se lê: “Todas as coisas vivem muito tempo embebem-se gradativamente de razão a tal ponto que sua origem na desrazão torna-se improvável. Quase toda história exata de uma gênese não soa paradoxal e ultrajante para o nosso sentimento? O bom historiador não contradiz continuamente, no fundo?”.

Leituras necessárias para o encontro do dia 04 de Maio 

Livro II
Aforismo 130 - Fins? Vontade? 
Aforismo 132 - Últimas ressonâncias do cristianismo na moral.