Reunião do dia 27
de Abril de 2012
Aforismo 112 - Contribuição à história natural do
dever e do direito.
Como já sabemos, em Aurora Nietzsche não busca formar
conceitos e sim trilhar novos caminhos experimentais, nesse aforismo fica
nítido que o filósofo começa a melhor desenvolver seu conceito de vontade de
poder, porém, tal ideia ainda não ganha corpo, é apenas um vislumbre do que no
decorrer de suas obras e pensamento ele melhor estruturará.
Dois pontos valem a pena serem ressaltados com relação
a esse aforismo. Primeiro que Nietzsche não faz referências históricas
determinadas, dando margem a interpretação de que sua narração seja válida para
qualquer período histórico. Segundo com relação à escrita que o filósofo
utiliza, além de criar expressões por conta própria, ele dá uma nova releitura
a palavras antigas, tornando necessário certo cuidado ao ler sua obra, palavras
entre aspas e itálicos trazem conotações diferentes.
Os temas trabalhados nesse aforismo são em demasia abrangentes e complexos,
por consequência, algumas questões permaneceram em aberto para debate e
questionamento, vamos tentar nesse resumo trazer os pontos principais do que
foi estudado e deixar o espaço dos comentários abertos para perguntas e
discussões.
- O erro
do livre arbítrio: Como podemos perceber a partir das seguintes linhas "O
mesmo erro bem poderia se achar em ambos os lados: o sentimento do dever
depende de partilharmos, nós e os outros, a mesma crença quanto á extensão de
nosso poder: de sermos capazes de prometer determinadas coisas, de nos
comprometermos em relação a elas ("livre arbítrio")." Nietzsche
aponta como um erro a ideia de livre arbítrio, erro este
que alicerça toda a organização de poder, porém, ressalta que tal
erro se faz necessário, sendo esse mesmo erro algo positivo e benéfico, sem o
qual a vida em sociedade seria impossível, caso contrário haveria uma guerra de
todos contra todos. Um questionamento que aparece seria a definição de
liberdade e livre arbítrio e o que difere esses dois conceitos em Nietzsche, ou
até mesmo o questionamento se existiria livre arbítrio na visão do filósofo,
fazendo a relação com o aforismo 109 intitulado "Autodomínio e moderação,
e seu motivo ultimo" onde o filósofo aponta as seis maneiras de manipulas
os impulsos.
- A
ideia de poder: A visão de Nietzsche acerca da justiça, direitos e deveres é
significativa para a construção da concepção de vontade de poder, sendo esta
última um jogo de forças. A justiça não necessariamente visa um bem comum
social e sim quem tem a maior força para criar tais direitos e deveres, no
caso, a balança pesa a distinção de poder, os direitos e deveres serão medidos
em comunhão com o poder exercido. Nota-se que se não existem deveres a moral se
perde. Uma forma de exemplificar tal concepção é a figura de Napoleão.
- Em relação à moral:
surge da ação de "escapar aos perseguidores e ser favorecido na busca
da presa" (página 29 - aforismo 26); habitua-se aos costumes de
determinada comunidade e em última instância está vinculada aos impulsos.
Futuramente será disponibilizada uma postagem dedicada unicamente em explicar a
questão dos impulsos.
- Para a questão do orgulho faço uma conexão entre
Nietzsche e La Rochefoucauld, é válido pensá-lo da seguinte maneira, sendo o
orgulho o maior defensor do "amor próprio", uma vez tomando o
"amor-próprio" como o maior dos aduladores no homem.
- Os
impulsos enquanto um se sobrepondo ao outro, onde o mais
forte subjuga um mais fraco, criando um dinamismo de criação e
aniquilação de impulsos. Creio ser válido fazer uma ligação com a máxima 10 do
livro “Máximas e Reflexões” de La Rochefoucauld onde ele
escreve "Há no coração humano uma germinação perpétua de paixões, de
modo que a ruína de uma é quase sempre o estabelecimento de outra."
Através da leitura do aforismo a pergunta que se faz é: o impulso possui poder
de escolha?
- Relação Prática e Boa vontade: São através das seguintes
palavras que se surgem os maiores questionamentos acerca desse aforismo:
"- O "homem justo" requer, continuamente, a fina
sensibilidade de uma balança: para os graus de poder e direito, que, dada a
natureza transitória das coisas humanas, sempre ficarão em equilíbrio apenas
por um instante, geralmente subindo ou descendo: - portanto, ser justo é
difícil, e exige muita prática e boa vontade, e muito espírito muito bom. -".
Sou livre para praticar? Que boa vontade é essa? Qual é a possibilidade de
dominação de impulsos para a prática através dessa "boa vontade"?
Pois aqui ele abre a possibilidade da prática, o que implicaria na dominação de
determinados impulsos. O que seria o espírito bom? Seria uma combinação de
forças?
Aforismos 115 - O assim chamado "Eu".
Aforismo 116 - O desconhecido mundo do
"sujeito".
Nietzsche está levando a discussão para fora do caráter da escolha
colocando os impulsos, ou instintos, como soberanos e desvincula o conhecimento
das coisas com os atos morais, pensamento este que gera ao filósofo a
consideração de “imoralista”, pois para a moral existe a possibilidade de
escolha, liberdade essa que Nietzsche desconsidera. Para clarear o que estamos
tratando basta visualizar a figura de Napoleão e compreender que ele não
poderia agir diferente da maneira que agiu, pois não existia outra possibilidade
de escolha. Nessa perspectiva, como a racionalidade atua?
Para melhor compreender a questão da racionalidade voltemos para o primeiro
aforismo do livro I, intitulado Racionalidade
a posteriori onde se lê: “Todas as
coisas vivem muito tempo embebem-se gradativamente de razão a tal ponto que sua
origem na desrazão torna-se improvável. Quase toda história exata de uma gênese
não soa paradoxal e ultrajante para o nosso sentimento? O bom historiador não
contradiz continuamente, no fundo?”.
Leituras necessárias para o encontro do dia 04 de Maio :
Livro II
Aforismo 130 - Fins? Vontade?
Aforismo 132 - Últimas ressonâncias do cristianismo na moral.