sábado, 1 de outubro de 2011

Aforismo 111 - Origem do culto religioso


Neste aforismo Nietzsche sonda a imaginação dos homens religiosos, surge o problema se a natureza é ausência de regras e como relacionar-se com a natureza. A religião surge como explicação para relacionar estes mundos, ter um certo domínio da natureza (para favorecimento dos interesses humanos), como necessidade de impor uma lei a natureza, neste aspecto a religião tem um caráter autoritarista.
"Se retornarmos aos tempos em que a vida religiosa florescia com toda força, acharemos uma convicção fundamental que já não partilhamos, e devido à qual vemos fechadas definitivamente para nós as portas da vida religiosa: tal convicção diz respeito à natureza e a relação com ela."
O homem inverte essa relação e o homem é a medida dessas relações.

"Naqueles tempos nada se sabia sobre as leis da natureza; seja na terrra, seja no céu, nadatinha que suceder; uma estação, o sol, a chuva podiam vir ou faltar. Não havia qualquer noção de causalidade natural."
Nietzsche cita exemplos das arbitrariedades, qualquer situação é uma força mágica no mundo homérico dos gregos. Ele faz uma transição, uma linha histórica dos gregos ao cristianismo.

"Nós homens modernos, sentimos precisamente o inverso: quanto mais interiormente rico o homem se sente hoje, quanto mais polifônica a sua subjetividade, tanto mais poderosamente age sobre ele o equilíbrio da natureza; juntamente com Goethe, todos nós reconhecemos na natureza o grande meio da tranquilização da alma moderna (...)"
Aqui vemos que é separado os tempos da religião e o tempo de Nietzsche (tempos modernos), demarca bem que o mundo da religião é o mundo passado e temos um grande avanço com esse saber. Nietzsche cita Goethe que está descobrindo as leis da natureza e faz uma crítica a modernidade, pois podemos considerar Nietzsche como um anti-capitalista romântico e está alheio a isso, prefere uma vida com ócio criativo.

"O sentido do culto religioso é influenciar e esconjurar a natureza em benefício do homem, ou seja, imprimir-lhe uma regularidade que a princípio ela não tem; enquanto na época atual queremos conhecer as regras da natureza para nos adaptarmos a ela."
Vemos que a religião exerce coações (magia - prejudicar o espírito) com as forças da natureza, e parece que Nietzsche acredita que a ciência faça isso melhor, ele está num certo otimismo com a ciência, mas como algo provisório neste contexto. Defende mais tarde que a relação com os deuses é pessoal e que pode-se também abandonar os deuses, faz uma descarga de sentimentos nos primórdios da religião; fala também que a crença foi invadida e o cristianismo fez isso em excesso, trabalha o santo e o asceta passando pelos gregos, por enquanto aqui os deuses olímpicos estão mais próximos.



Imagem: "Sownstorm" datado em 1842 - Joseph Mallord William Turner

2 comentários:

  1. "Nós homens modernos..." poderia ser interpretado pelo fato de Nietzsche se avaliar um filósofo do futuro e escrever em comunhão expectativa de raciocínio e compreensão de seus leitores da modernidade? Ele deixa claro que suas obras são escritos para um futuro e que na atual época não seria compreendido, porém quando escreve dessa forma, me dá a entender que esteja partilhando de uma ideia que espera ser entendida no futuro, por isso a perspectiva da frase colocada no presente com referência a modernidade.

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  2. Na primeira imagem Turner, conhecido por retratar magnificamente tempestades e o mar mostra a natureza em sua forma mais pura.

    Na segunda imagem Bosch, conhecido por retratar de uma forma caricatural a sociedade e seus dogmas mostra o poder ilusório através de truques mágicos, que ao meu ver pode ser facilmente relacionado a ilusão que o cristianismo causa perante as massas sociais. Enquanto o homem está hipnotizado pelo truque mágico alguém lhe rouba suas moedas.

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