Aforismo 481 - Dois Alemães
"Compare-se Kant e
Schopenhauer a Platão, Spinoza, Pascal, Rousseau, Goethe, tendo em vista sua
alma e não seu espírito".
O primeiro ponto discutido é a
distinção entre alma e espírito, foi colocado que alma estaria ligada as
vivências, e espírito seria algo relacionado (em termos genéricos) ao intelecto.
O segundo ponto marcante é a comparação
feita entre, por um lado, Kant e Schopenhauer, e por outro, Platão, Spinoza,
Pascal, Rousseau e Goethe, tendo em vista que os primeiros possuem a tendência
de separar suas obras de suas vidas, enquanto os outros fazem de
sua filosofia uma mescla de tais fatores.
"Schopenhauer tem uma vantagem diante
dele: possui ao menos uma certa veemente feiura da
natureza, em ódio, cobiça, desconfiança, vaidade, é de constituição um tanto
mais selvagem e tinha tempo de vagar para esta selvageria. Mas faltava-lhe
o "desenvolvimento.", assim como no seu âmbito de idéias: ele não
tinha história.”.
Com essa passagem Nietzsche
expressa ainda que Schopenhauer possuía algo alheio a Kant, a
vivência, sobre tudo elogia seu pessimismo, uma vez que
não possuía tal idealismo sobre o homem presente em Kant, embora para
nosso filósofo não fosse o ideal.
Um fato que não deve ser esquecido é que o
próprio Nietzsche, em suas obras, deixar aparecer marcas de sua vivência, fato
este claro no decorrer de suas produções, umas vez que sua filosofia está em
comunhão com suas próprias experiências e sua história. Recordando-nos de sua
obra anterior, Humano,
demasiado humano, Nietzsche passava por um período de forte crise e sérios
problemas de saúde, momento este que esteve à beira da morte, seu próximo
livro, Aurora, é escrito
exatamente em sua fase de recuperação e buscando novos caminhos, ou seja, o
filósofo se faz presente na obra.
"Kant se apresenta, quando
transparece em seus pensamentos, como bravo e honrado no melhor sentido, mas
insignificante: falta-lhe envergadura e poder; não vivenciou muita coisa, e seu
modo de trabalhar toma-lhe o tempo para vivenciar algo."
Aqui Nietzsche descreve
que apesar de Kant não ter a intenção ele transparece algo, no caso, a ausência
de vivência. Podemos chegar também à definição de vivência encontrada no texto como
sendo: "vicissitudes e tremores que assaltam a vida mais quieta e
solitária".
Fica claro também a
necessidade do ócio com a seguinte passagem: “toma-lhe o tempo para vivenciar
algo”.
Aforismo 538 - A insânia moral do gênio.
Aqui Nietzsche se refere ao gênio procurando ressaltar sua falibilidade, entendemos melhor com a seguinte passagem:
"Em determinada espécia de grandes espíritos podemos observar um espetáculo doloroso, as vezes terrível: seus instantes mais fecundos, seus vôos para o alto e para longe, parecem não ser adequados à sua constituição como um todo e exceder de algum modo a sua força, de maneira que toda vez se nota uma falha e, ao longo prazo, a falibilidade da máquina, que, porém, em naturezas altamente espirituais como as de que falamos, manifesta-se em todo gênero de sintomas morais e intelectuais, bem mais regularmente do que em aflições físicas."
Na seguinte passagem o filósofo escreve:
"Enquanto o gênio habita em nós, somos arrojados, como que loucos até, e não atentamos para a vida, saúde e honra; cruzamos o dia mais livres que uma águia, e temos mais segurança na escuridão que uma coruja. Mas repentinamente ele nos deixa, e da mesma forma súbita somo acometidos de profundo temor: já não compreendemos a nós mesmos, sofremos de tudo o que vivemos e do que não vivemos, achamo-nos como entre rochas nuas ante de uma tormenta, e, ao mesmo tempo, como pobres almas infantis que temem um ruído e uma sombra."
Aqui fica claro a postura de Nietzsche, "enquanto o gênio habita em nós" podemos interpretar como uma referência aos impulsos, uma vez tomado por esse ímpeto colocamos o corpo em uma situação extrema, onde se exige grande esforço físico e emocional e como consequência "somos arrojados" e "não atentamos para a vida, saúde e honra". Porém quando isso se desfaz dá lugar para o temor, temor esse tão destrutivo quanto o que o produziu tem de construtivo.
Termina o aforismo com a seguinte colocação:
"Três quartos de todo o mal que se faz no mundo ocorre por temor: e este é, antes de tudo, um processo fisiológico."
Podemos perceber o quanto Nietzsche considera o corpo e o psíquico na produção do gênio, ou de qualquer indivíduo, mostrando suas influências no ser humano e que por vezes tais influências causam efeitos negativos, como escreveu em sua ultima passagem, pois assim como uma máquina que possui vulnerabilidade, a longo prazo tende a falhar e possivelmente isso poderá vir a acontecer posterior a um momento de grande esforço, esforço este pai de toda grande e genial produção.
Como já ressaltamos anteriormente, vale fazer a lembrança de que Nietzsche deixa transparecer suas vivências em suas produções e esse aforismo só faz provar tal afirmação, uma vez conhecer bem os sintomas descritos a pouco, em Aurora nosso filósofo se recompõe de um desses "espetáculos dolorosos", tendo passado por uma fase delicada de saúde.
Aforismo 538 - A insânia moral do gênio.
Aqui Nietzsche se refere ao gênio procurando ressaltar sua falibilidade, entendemos melhor com a seguinte passagem:
"Em determinada espécia de grandes espíritos podemos observar um espetáculo doloroso, as vezes terrível: seus instantes mais fecundos, seus vôos para o alto e para longe, parecem não ser adequados à sua constituição como um todo e exceder de algum modo a sua força, de maneira que toda vez se nota uma falha e, ao longo prazo, a falibilidade da máquina, que, porém, em naturezas altamente espirituais como as de que falamos, manifesta-se em todo gênero de sintomas morais e intelectuais, bem mais regularmente do que em aflições físicas."
Na seguinte passagem o filósofo escreve:
"Enquanto o gênio habita em nós, somos arrojados, como que loucos até, e não atentamos para a vida, saúde e honra; cruzamos o dia mais livres que uma águia, e temos mais segurança na escuridão que uma coruja. Mas repentinamente ele nos deixa, e da mesma forma súbita somo acometidos de profundo temor: já não compreendemos a nós mesmos, sofremos de tudo o que vivemos e do que não vivemos, achamo-nos como entre rochas nuas ante de uma tormenta, e, ao mesmo tempo, como pobres almas infantis que temem um ruído e uma sombra."
Aqui fica claro a postura de Nietzsche, "enquanto o gênio habita em nós" podemos interpretar como uma referência aos impulsos, uma vez tomado por esse ímpeto colocamos o corpo em uma situação extrema, onde se exige grande esforço físico e emocional e como consequência "somos arrojados" e "não atentamos para a vida, saúde e honra". Porém quando isso se desfaz dá lugar para o temor, temor esse tão destrutivo quanto o que o produziu tem de construtivo.
Termina o aforismo com a seguinte colocação:
"Três quartos de todo o mal que se faz no mundo ocorre por temor: e este é, antes de tudo, um processo fisiológico."
Podemos perceber o quanto Nietzsche considera o corpo e o psíquico na produção do gênio, ou de qualquer indivíduo, mostrando suas influências no ser humano e que por vezes tais influências causam efeitos negativos, como escreveu em sua ultima passagem, pois assim como uma máquina que possui vulnerabilidade, a longo prazo tende a falhar e possivelmente isso poderá vir a acontecer posterior a um momento de grande esforço, esforço este pai de toda grande e genial produção.
Como já ressaltamos anteriormente, vale fazer a lembrança de que Nietzsche deixa transparecer suas vivências em suas produções e esse aforismo só faz provar tal afirmação, uma vez conhecer bem os sintomas descritos a pouco, em Aurora nosso filósofo se recompõe de um desses "espetáculos dolorosos", tendo passado por uma fase delicada de saúde.