Reunião do dia 15 de Junho de 2012
Aforismo 423 – Dentro do grande silêncio
Nesse aforismo Nietzsche, que se encontrava na Itália, já apresenta de
forma marcante o espírito de Zaratustra, inclusive na própria linguagem com
exclamações bastante significativas, formando uma bela escrita.
No capítulo V nosso filósofo traz a nova paixão, a paixão pelo
conhecimento. Na sequência, em A
Gaia Ciência fica clara essa
nova paixão, não sendo uma ciência fria e dura, mas sim uma ciência jovial e
alegre, que deve ser vista de um ponto muito mais estético. Posteriormente,
Nietzsche terá a visão do que nomina como “Eterno Retorno” e é em Aurora que ele se prepara para tal vislumbre.
Já no início do aforismo podemos perceber a referência que Nietzsche faz
ao mar, como já vimos anteriormente em nossas reuniões o que significava para
ele tal cenário, no caso, a buscar por novos caminhos, o descobrimento de novas
auroras. “Aqui está o mar,
aqui podemos esquecer a cidade.” Logo
em seguida ele cita os sinos da igreja, vale a reflexão de que Nietzsche
conhece bem tal sinfonia, sendo uma recordação de sua infância uma vez tendo
morado até os 5 anos em uma sacristia juntamente com o pai que era pastor. “Os
sinos ainda tocam neste momento a Ave Maria – esse ruído sombrio e tolo, porém
doce, no cruzamento do dia com a noite –, mas apenas por mais um instante!
Agora tudo se cala!”.
Buscando o texto no original podemos notar o jogo de palavras que o
filósofo faz, sendo de um alemão muito polido e bonito.
Nietzsche está aqui dentro do grande silêncio, posição essa que ele
acreditava ser fundamental para qualquer filósofo, pois só assim conseguiriam
se distanciar das situações rotineiras e olhar com mais fidelidade para elas.
Mesmo não sendo um romântico Nietzsche, nesse momento, quer dialogar com
a natureza, quer encontrar na natureza o silêncio de que precisa para encontrar
os novos caminhos que vem buscado.
Quem tem a experiência do sublime, não fala. O silêncio representa a
profundidade de tal sentimento e qualquer palavra que seja usada o macularia. A imagem escolhida representa tal experiência,
intitulada “Paulo Afonso Falls”, a pintura está datada de 1850 e é obra de E.
F. Schute, pertencente ao MASP.
Nosso filósofo teme o avanço das cidades e com esse aforismo reafirma
que o espírito livre deve buscar o silêncio que a natureza proporciona e não se
deixar contaminar pelo rebanho, por essa industrialização, por esse modo de
vida inquieta, por essa inquieta Europa.
“Ah, faz-se ainda mais silêncio, e novamente se inflama o meu coração:
apavora-se ante uma nova verdade.” Será aqui o eterno retorno essa nova
verdade?
Lembrando que esse é um momento extremamente feliz na vida de Nietzsche, em Aurora e A Gaia Ciência, ele vive um sentimento de renascer além de estar muito esperançoso com sua filosofia, por isso que Aurora é um prenuncio para algo muito maior.
Aforismo 424 – Pra que existe a verdade
A temática aqui está voltada para a questão do erro, suas causas e
consequências. Nietzsche aponta o erro como uma poderosa ferramenta consoladora
e escreve: “Até o momento, os erros foram os poderes consoladores: agora,
espera-se o mesmo efeito das verdades reconhecidas, e espera-se já há algum
tempo. E se as verdades não fossem capazes justamente
disso – consolar?.”. Também fica claro sua posição perante o
vinculo religião e erros, sendo a religião justamente a santificação dos erros.
Podemos notar a posição de nosso filósofo quando se refere à nossa forma
de sentir, de pensar e de agir, dizendo que tais ações estão condicionadas à
esses erros. Por outro lado, a ciência mostrou que esse mundo, que nos diz
respeito, é um mundo falso, sendo ela incapaz de oferecer remédio para os males
dos erros. É exatamente este o motivo pelo qual os doentes entenderão que esta
ciência é uma maldição.
"Mas outrora havia tal convicção de que o ser humano era a finalidade
da natureza, que se supunha, sem hesitação, que também o conhecimento nada
poderia descobrir que não fosse útil e saudável para o homem, sim, não poderia
haver, não era lícito que houvesse outras coisas. – Talvez disso
resulte a tese de que a verdade, como um todo coerente existe apenas para as
almas simultaneamente poderosas e inofensivas, jubilosas e pacíficas (como foi
a de Aristóteles), e de que apenas estas serão capazes de buscá-las: pois as
outras buscam remédios para si, ainda que pensem muito orgulhosamente do seu
intelecto e a liberdade deste – elas não buscam a verdade."