Depois da segunda guerra
mundial, muito se especulou acerca da opinião de Nietzsche à cultura judaica.
Nestes dois aforismos em específico, temos a oportunidade de contemplar tanto
suas críticas, quanto seus elogios a este povo. Sabemos que neste capítulo de
sua obra, Nietzsche busca observar de forma crítica o seu próprio povo, ou
seja, o povo alemão. O filósofo busca através de outros exemplos culturais
pontuar o que mais seria apropriado e inapropriado de adotar para sua própria
pátria. Pensando nisso, iremos, portanto, ler com cuidado os trechos em
questão. O aforismo 250 introduz de maneira geral o que será trabalhado a
seguir. É no aforismo 251 que um leitor razoavelmente imerso no contexto
nietzschiano, consegue compreender ponto a ponto do que está sendo lançado ao
texto. Para Nietzsche, o povo alemão teria demonstrado “pequenos acessos de
imbecilização” na medida em que escolhe um determinado povo para sentir
repudia. Ao contrário do que observa na sociedade, Nietzsche pretende utilizar
o exemplo de outros povos e pátrias como móbil positivo para a melhora de seu
próprio país. É um erro afirmar que as críticas desenvolvidas pelo autor (pelo
menos nesta obra) tenham um caráter pessoal, como o criticado acima.
Sobre os judeus:
ouçam-me. – Ainda não encontrei um alemão que tivesse afeição pelos judeus; e
embora todos os homens cautelosos e políticos rejeitem de modo absoluto a
autêntica anti-semitice, mesmo essa cautela e essa política não se dirigem
contra o próprio gênero do sentimento, mas tão-somente contra a sua perigosa
imoderação, em especial contra a manifestação disparatada e vergonhosa desse
sentimento imoderado – quanto a isso não haja ilusões. (NIETZSCHE, 1992, p.
158).
Torna-se claro para nós
leitores de Nietzsche, que o filósofo despreza esse tipo de preconceito
superficial para/com outras culturas. Uma análise crítica construtiva é sim
possível onde os indivíduos presentes na discussão estejam livres de opiniões
senso comum, fundamentando seus julgamentos num plano de fundo suficiente. Mais
a frente no mesmo aforismo, Nietzsche afirmará que pelo contrário do que se
propagou na Alemanha de seu tempo, que os judeus seriam a raça mais forte, pura
e tenaz a viver na Europa. Concluímos após a leitura do final do trecho
selecionado, que para o autor, os judeus seriam um exemplo de superação. A raça
judia é considerada por ele, uma raça capaz de evoluir buscando adaptação nos
mais variados tipos de contextos. E indo contra a ideia perpetuada pela
Alemanha nazista, Nietzsche na verdade dirá que não só o povo Alemão, mas toda
Europa, deveriam aprender observando a força da cultura judaica. Esse povo
poderia para Nietzsche, contribuir com seus elementos mais fortes, para o
cultivo de uma nova casta que governasse a Europa livres de características consideradas
fracas.
Concluímos dessa forma,
que o filósofo já observava uma atitude antissemita na sua pátria, e sem
imaginar que seria tão mal interpretado alguns anos após a sua morte, Nietzsche
finaliza o aforismo 251 sem focar nos pontos negativos da cultura judaica. São
seus elementos mais fortes capazes de transformá-los em uma raça dominadora, na
perspectiva nietzschiana.
Beatrís Seus
Referências:
NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma
Filosofia do Futuro. Tradução, Notas e Posfácio de Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.