Prefácio: Já nas
primeiras páginas podemos perceber que sua crítica maior está voltada para a
cultura ocidental, onde a partir da ascensão do cristianismo algo de novo
ocorre na história, ela faz o que até então nenhuma outra cultura havia feito,
apontando o fundamento do bem e do mal em um único Deus, um Deus universal,
pois até então cada povo havia tido seu próprio Deus. Para ele essa ascensão se
dá através da combinação de duas lógicas no ocidente, por um lado o judaísmo e
por outro as ideias platônicas gregas e foi o apóstolo Paulo de Tarso o primeiro a dar fundamento ao que se desenvolveu depois. Essas noções de bem e
mal geraram um código moral e esse código ganha corpo e força universal.
A dominação
do pensamento e da moral cristã perpassa cerca de 1500 anos e é a partir da
Reforma que essa igreja começa a perder força, todavia esse código moral
permanece forte e ditando as normas de toda uma sociedade, em contra partida a
natureza mostra constantemente que a vida é imoral. O filósofo percebe então
que esse fundamento último da moral não existia mais.
Uma vez demolido os pilares cristãos
da moralidade, Nietzsche se depara com seu problema central: qual é a tarefa do filósofo imoralista no movimento da autossupressão da moral?
Aforismo
9 - Conceito da moralidade dos costumes: Nietzsche vai tratar da moral que salta dos costumes, fazendo referência a dois
tipos de moral, a moral do rebanho e a dos espíritos solitários; já em Humano, demasiado humano o filósofo
define o que pra ele seria o espírito livre e o espírito cativo, aqui ele
retoma esses conceitos.
“... a
moralidade não é outra coisa (e, portanto, não
mais!) do que obediência a costumes, não importa quais sejam; mas costumes
são a maneira tradicional de agir e
avaliar. Em coisas nas quais nenhuma tradição manda não existe moralidade; e
quanto menos a vida é determinada pela tradição, tanto menor é o círculo da
moralidade. O homem livre é não moral, porque em tudo quer depender de si, não
de uma tradição: em todos os estados originais da humanidade, “mau” significa o
mesmo que “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inusitado”, “inaudito”, “imprevisível”.”
Aforismo
14 - Significação da loucura na história
da moralidade:
"Enquanto hoje
sempre nos dão a entender que ao gênio não foi dado um grão de sal, mas o
tempero da loucura, todos os homens de outrora tendiam a crer que onde houver
loucura haverá também um grão de gênio e de sabedoria - algo
"divino", como sussurravam."
Leituras necessárias para o próximo encontro:
Aforismo 18 - A moral do sofrimento voluntário.
Aforismo 26 - Os animais e a moral.
Indicação de leitura:
Para melhor compreender a auto-supressão da moral recomendamos a leitura do livro do Osvaldo Giacóia Junior: Labirintos da Alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral. São Paulo: Editora UNICAMP, 1997.