Aforismo 18: "A moral do sofrimento voluntário"
Com esse aforismo
o filósofo emerge do fundo dos impulsos humanos trazendo à tona de forma
impecável a narração da crueldade como sendo cerne das motivações das ações dos
indivíduos e pontua de maneira exemplar: "A crueldade está entre as mais
velhas alegrias festivas da humanidade.”.
Em primeiro lugar
Nietzsche coloca o tema da moralidade do costume, nota-se que o filósofo volta
seus olhos para um período muito anterior na sociedade e coloca como centro de sua
narração a questão do homem enquanto um animal que sente prazer perante a
crueldade e disserta que através dessa crueldade para com os outros nasce uma
crueldade para consigo mesmo, que seria a ideia de auto sacrifício.
Exemplificando
melhor o que estamos tratando vamos relembrar os gregos antigos, que
acreditavam receber recompensas ou benefícios através de sacrifícios, ou
seja, diante de uma determinada crueldade os deuses ficariam satisfeitos e tal
atitude traria poder para tais indivíduos e é aqui que ele começa a elaborar a
ideia de vontade de poder, conceito este que tomará corpo no decorrer de seus
estudos se tornando muito forte em sua filosofia.
Em Aurora Nietzsche
está escavando o subsolo da moral, como um fotógrafo ele registra imagens de
uma sociedade sem fazer valoração, no aforismo estudado ele apenas narra o que
acontecia na pré-história humana, se voltando para o caráter da sociedade
baseado em uma moralidade do costume e escreve:
"Vocês acham
que tudo isso mudou e que, portanto, a humanidade trocou de caráter? Ó
conhecedores dos homens, aprendam a conhecer-se melhor!"
Nietzsche coloca
bem a nossa frente a lógica do sentimento motivador do ser humano, a tirania da
moralidade do costume, apontando até mesmo uma irracionalidade na prática comum
de tais costumes e como o ser humano perde o a liberdade de exercer seus
instintos se adequando as regras morais. O segundo movimento que o filósofo faz
é de apontar o fundamento do sentimento de arrependimento, apontando que o
sentimento de culpa e remorso faria parte de uma moral posterior á moral da
crueldade, sendo esta a mais primitiva do ser humano, a segunda já seria uma
crueldade consigo mesmo, interiorizada.
Aforismo 26:
"Os Animais e a moral"
Aqui o filósofo
mostra uma compreensão acerca dos animais diferenciada da costumeira,
dissertando para o fato de existir uma moralidade vigente entre os mesmos que
visa um melhor viver e uma adequação ao ambiente. Para esse aforismo vale a
constatação de que aqui Nietzsche rompe com a ideia de moralidade em comunhão
com a racionalidade e escreve:
“... tudo aquilo
que denominamos de virtudes socrásticas é
animal: uma consequência dos impulsos que ensinam a procurar alimento e
escapar dos inimigos. Se considerarmos que também o homem superior apenas se
elevou e refinou no tipo da
alimentação e na ideia do que lhe é hostil, será lícito caracterizar todo o
fenômeno da moral como animal.”
Duas notas se
mostram necessárias, primeiramente a palavra “alimento”, onde se abre a
possibilidade de uma reflexão mais ampla que faça referência a todos os
alimentos não só fisiológicos, mas também emocionais e psicológicos e em
segundo lugar o que salta aos olhos é uma finalidade de vontade de potência por
trás de todas as intenções motivadoras.
http://www.youtube.com/watch?v=W5PCg9v8Z0g
Leituras
necessárias para o próximo encontro:
Livro II
Aforismo 103
- Há dois tipos de negadores da moralidade.
Aforismo 109
- Auto domínio e moderação, e seu motivo último.