Estilo aforístico: O livro Aurora segue o
mesmo estilo de Humano, demasiado humano.
Quando Nietzsche entra em contato com os livros dos moralistas franceses
modifica sua forma de escrever, passando a redigir seu pensamento em forma de
aforismos.
Período intermediário e temas: Também conhecido como
positivismo cético ou somente
positivista, que vem de Humano,
demasiado humano até o
terceiro livro, A Gaia Ciência.
É neste
livro, também, que se deu início às reflexões sobre a vontade de poder, que só
seriam mais amplamente tratadas em Assim
Falou Zaratustra. Disserta
também sobre a filosofia do espírito livre, se volta para questões relacionadas
aos impulsos, instintos, pulsões e como eles se expressam. Fala sobre relação
entre consciência e memória com o eu (identidade). Trata das noções de
sujeito, de alma, de essência, do mundo do vir a ser. Mostra que existe uma
base impulsiva para as construções morais e faz crítica ao procedimento
dogmático da moral e da maneira de se fazer filosofia. Coloca os instintos como
soberanos, requalificando sua condição anterior.
Abordamos, também, em linhas gerais,
o que ele propõe no decorrer do livro. E para melhor entender o que está por
vir em nossas reuniões, e o que vimos em nosso primeiro encontro, basta ler o
posfácio na integra. Mas para que vislumbrem colocarei aqui alguns fragmentos
do que foi discutido na reunião:
“Tomando a tradicional
divisão da obra de Nietzsche em três períodos, este livro se inscreve no
período intermediário ou “positivista”, inaugurado por Humano, demasiado humano (1878). No entanto, algo que o
diferencia deste e de seus dois complementos, Opiniões
e sentenças várias (1879) e O andarilho e sua sombra (1880) e que representa mais um passo
na libertação da influência de Wagner e Schopenhauer, é a ênfase dada por
Nietzsche á “paixão do conhecimento”. Essa nova paixão é entendida, num plano
universal, como o impulso em que a humanidade mesma sacrifica-se em prol do
conhecimento (cf.seções 45 e 429), algo que o autor viria a chamar de “vontade
de verdade” (Além do bem e do mal, 1).”.
“A crítica da moralidade
cristã, já prenunciada em Humano..., toma corpo em Aurora transforma-se mesmo em campanha e
continuará sendo refinada nas obras seguintes. Para Nietzsche, a concepção
cristã do mundo utiliza categorias falsas e prejudiciais á vida humana: “alma”,
“pecado”, “Deus”, “vida após a morte” não passam de ilusões que pretendendo nos
consolar, apenas culminam e depreciam a existência.”.
Metodologia
de estudo e influências em Nietzsche: Em nossa primeira reunião
tivemos um panorama geral de como funcionaram nossos encontros, tivemos também
um pequeno espaço para apresentação do projeto do Grupo de Estudos Nietzsche.
Expomos a metodologia que será utilizada e voltamos nossos olhos para os sérios
problemas de más interpretações, más traduções e os perigos de uma leitura
desinteressada da obra filosófica de Nietzsche. Além da leitura do próprio
livro teremos um espaço aberto para debates.
Uma ferramenta para alcançar
uma boa interpretação das obras do filósofo é o estudo genético estrutural, que
se define por privilegiar o texto e seu tempo, procurando entender sua
estrutura interna juntamente com o ato de situá-la no momento sócio-cultural do
autor. Dito isso, se torna interessante uma abordagem do contexto histórico em
que Nietzsche esteve inserido em comunhão com uma pesquisa sobre o que
influenciava suas criações, seus pensamentos e leituras filosóficas, no caso de Aurora, Nietzsche mantinha
estudos na área da Biologia, da Física e da Medicina, dando ênfase aos
progressos científicos de sua época, além da leitura de Auguste Comte, dos
Moralistas Franceses e de outros pensadores, figuras como César Bórgia e
Napoleão também são citados no decorrer do livro. Tais influências contribuíram de maneira direta
para um novo pensar filosófico.
Para concluir vou citar algo
curioso; "As primeiras anotações do que viria a ser Aurora foram feitas no
início de 1880, quando Nietzsche se achava em Riva del Garda, no Norte da
Itália. Depois prosseguiram em Veneza, (...). Foi apenas em Gênova, no inverno
de 1880-81, que elas tomaram forma de livro(...)". Gênova, terra de
Cristóvão Colombo, fato esse digno de reflexão, pois o filósofo já havia
vislumbrado a criação de um nova nova maneira de enxergar o indivíduo, maneira
esta que havia sido freado pela moral por muito tempo, será que assim como
Colombo não estava o próprio Nietzsche navegando em busca de novos horizontes?
Novas ideias? Novas auroras?
Citações: Pósfácio de Paulo
César de Souza, página 311. Companhia das Letras.