sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Capítulo 3 – Aforismo 108 – A dupla luta contra o infortúnio



No livro Além de Bem e de Mal Nietzsche aborda temas semelhantes a estes escritos no capítulo 3, porem com mais radicalidade.

No aforismo 108 Nietzsche opera com três períodos: Religião, Política e Arte.
“A religião e a arte (e também a filosofia metafísica) se esforçam em produzir a mudança da sensibilidade, em parte alterando o juizo sobre os acontecimentos (por exemplo, com ajuda da frase: ‘Deus castiga a quem ama’), em parte despertando prazer na dor, na emoção mesma (ponto de partida da arte trágica).”

Na frase “Deus castiga a quem ama” aborda como as religiões têm efeito narcótico, de auto-hipnose, efeito sobre as causas. Religião e arte para Nietzsche têm efeitos que não diminuem as causas. “(...) o alívio e a anestesia momentâneos (...)”. A religião tem como função amenizar as dores humanas e não atua como verdade. Vemos também uma crítica a Shopenhauer, o qual tem uma visão positiva das religiões, religião é vista por ele como uma necessidade metafísica, e Nietzsche luta contra isso, pois vê a religião apenas como atestado de nossa fraqueza, uma unidade de tudo o que vive e sofre.

“Quanto mais diminuir o império das religiões e todas as artes da narcose, tanto mais os homens se preocuparão em realmente eliminar os males (...).” Alem da religião, a arte é vista aqui com um sentido amplo, os artistas são artistas da narcose.
Vemos neste aforismo a tragédia como centro no jovem Nietzsche, na tragédia temos a arte de transfigurar prazer em dor e dor em prazer.

“(...) pois há cada vez menos matéria para a tragédia, já que o reino do destino inexorável e invencível cada vez mais se estreita (...).” O mundo moderno tem um “bisturi” de danificação psicológica, tem espírito doloroso, de ferir a si mesmo.
Vemos aqui que Nietzsche quer “acertar contas” com a religião, então faz uma crítica direta e metódica a ela.

Questão: Como Nietzsche se coloca em relação a metafísica?

Nietzsche é anti-metafísico. Em Aurora a questão da metafísica fica mais insinuada. Por exemplo, Nietzsche não usa conceitos metafísicos, em Humano Demasiado Humano fica mais cuidadoso com a palavra “essência”, prefere utilizar “vida religiosa”. Existe um empirismo moral, opera com prazer e dor no campo empírico, aborda o espírito livre, tem a perspectiva de se livrar plenamente da metafísica.

Imagem: The Sacrifice of Isaac datada de 1590 á 1610 - Michelangelo Merisi da Caravaggio

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