segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Relato da reunião do dia 26/07/2013 sobre A Gaia Ciência §80 e §82

Autorretrato com a orelha cortada - Vincent Van Gogh (1889)
Na reunião do dia 26 de julho de 2013, foram lidos e debatidos os aforismos §76 e §77 de A gaia ciência (1882). Num primeiro momento, foi discutido o aforismo §76, “O perigo maior”, tendo sido entendido que para Nietzsche existe um grupo de homens que não consegue viver com fantasias, tendo uma necessidade de engessar o mundo. Foi a disciplina da mente desses homens, entendida enquanto racionalidade, que garantiu a preservação da humanidade. Por outro lado, haveriam os loucos, aqueles capazes da irrupção de loucura entendida como “irrupção do capricho no sentir, ver e ouvir, o gosto na indisciplina da mente, a alegria no ‘mau senso’”. Com isso foi discutido, durante a reunião, que o louco seria aquele portador da capacidade de mudança. Isto porque a loucura só é entendida enquanto tal pois é exceção, já que, se todos fossem loucos, a loucura seria a razão.
            Assim, entendeu-se que no pensamento de Nietzsche o que está em jogo para os homens que entendem ser a sua racionalidade o motivo de seu orgulho não é a verdade ou a certeza acerca de uma crença, mas sim submeter-se à lei da concordância, ou seja, o disciplinar de sua mente. De tal maneira, haveria o erro de dar sentido ao que não tem sentido, e a submissão a tal crença. No entanto, o filósofo compreende que justamente essa disciplina da mente foi a responsável pela conservação da humanidade.
            Quanto ao contexto de onde surgiriam esses loucos, observou-se que justamente os investigadores da verdade são os que primeiramente se cansam do ritmo lento dessa investigação, assim como artistas e poetas, pois são espíritos impacientes. Foi ressaltado que Nietzsche está utilizando termos que fazem referência à arte, como “metrônomos”, “ritmo”, “dança”. Também foi discutido que o erro conservou a humanidade, e que os loucos também são necessários para a economia da conservação, contanto que haja um controle sobre estes, pois são uma exceção que não pode tornar-se regra. Por fim, apontou-se o tom descritivo do aforismo, sem muitas prescrições, evidenciando-se que Nietzsche parece interessado em explicitar o papel que o louco tem, bem como seu perigo, não o vendo apenas como um indivíduo à parte da sociedade.
            Em seguida, com a leitura do aforismo §77, O animal com boa consciência, debateu-se que o Sul da Europa estaria mais marcado pela relação com o Império Romano, enquanto que o Norte com os bárbaros, sendo ressaltado que para Nietzsche a ideia de refinamento está relacionada com o mundo greco-romano, por isso havendo esta valorização do Sul como não possuindo problemas com a vulgaridade, posto que “o que aí é vulgar se apresenta com a certeza e segurança de si de qualquer coisa nobre”. Por outro lado, no Norte encontraríamos um rigor de costumes, havendo assim uma vergonha do artista que se rebaixa.

            Foi também debatido o significado do uso da imagem de máscaras no aforismo.  Seria no mesmo sentido da caracterização dos gregos como “superficiais por profundidade”, ou seja, como uma forma de encobrir a profundidade? Ou seria no sentido de o artista utilizar-se da máscara como forma de alcançar a universalidade? Assim, a  máscara seria associada à “regra”, e a “loucura” estaria relacionada às vanguardas. Com isso, entendeu-se que um gosto mais refinado não se utilizaria do artifício da máscara.