segunda-feira, 28 de maio de 2012

Divulgação de Evento - GIRN


Essa postagem é dedicada a divulgação do V Congresso Internacional do GIRN (Grupo Internacional de Investigações sobre Nietzsche) que irá acontecer nos dias 21-23 de Junho em Lisboa.

Lembrando que o professor Rubira fará parte do Ateliê da Sexta-Feira à tarde(15 às 16h30): a possibilidade de um ascetismo prático.

Basta clicar nas palavras destacadas e uma nova página com todas as informações será aberta.

sábado, 26 de maio de 2012

Depoimentos - Grupo de Estudos Nietzsche


Trago com essa postagem a trigésima edição dos Cadernos Nietzsche, onde podemos encontrar os depoimentos dos membros do Grupo de Estudos Nietzsche - GEN

Basta clicar na palavra destacada e boa leitura!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Divulgação de Evento - UFMG

 I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradição Filosófica realizado na UFMG


Nietzsche e a Tradição Kantiana

02 a 06 de Outubro


Este pretende ser o primeiro de uma série de congressos internacionais dedicados a discutir a relação de Nietzsche com uma variedade de escolas e tradições filosóficas do Ocidente. Trata-se de um projeto acadêmico concebido pelo GruNie (Grupo Nietzsche da UFMG). O tema da primeira edição será Nietzsche e a Tradição Kantiana. Este tema inclui não apenas as diferentes facetas da recepção de temas kantianos por Nietzsche (aceitação, assimilação, recusa e reformulação de teses reconhecidamente kantianas nos terrenos da metafísica, epistemologia, moral e estética), como também o papel desempenhado neste processo por diversos autores pertencentes à filosofia alemã da segunda metade do século XIX (tais como Schopenhauer, F. A. Lange, Afrikan Spir, Otto Liebmann, Otto Caspari, Gustav Teichmüller e Hermann von Helmholtz); e, finalmente, uma apreciação da relevância das críticas de Nietzsche a certos aspectos da filosofia kantiana à luz de releituras contemporâneas do kantismo.

Organização Grupo Nietzsche da UFMG
Comissão Organizadora:
Prof. Dr. Rogério Lopes (Filosofia/UFMG)
Profa. Dra. Giorgia Cecchinato (Filosofia/UFMG)
Profa. Dra. Cíntia Vieira (Filosofia/UFOP)
Prof. Dr. Bruno Guimarães (Filosofia/UFOP)
participantes Palestrantes confirmados:
Tom Bailey
(John Cabot University/Itália)

Peter Bornedal 
(American University of Beirut/Líbano)

Maria João Branco 
(Universidade Nova de Lisboa/Portugal)
Marco Brusotti 
(Università degli Studi di Lecce/Itália)
João Constâncio 
(Universidade Nova de Lisboa/Portugal)

Michael S. Green
(William & Mary School of Law/EUA)

Oswaldo Giacóia Júnior
(Unicamp/Brasil)
Helmut Heit 
(TU-Berlin/Alemanha) 

Beatrix Himmelmann 
(University of Tromsø, Noruega)
André Itaparica 
(UFRB/Brasil)

(Zeljko Loparic)
(PUC-PR/Brasil)

Luca Lupo 
(Università dela Calabria/Italy)

Scarlett Marton 
(USP/Brasil)
Antônio Edmilson Paschoal

(PUC-PR/Brazil)

Mattia Riccardi 
(Universidade do Porto/Portugal) 

Herman Siemens 
(Leiden University/Holanda)
Paul van Tongeren
(Nijmegen University/Holanda)


Apoio
Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFMG
Programa de Pós-graduação em Estética e Filosofia da Arte da UFOP
Departamento de Filosofia da UFMG
Departamento de Filosofia da UFOP
instituição Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFMG & Instituto de Filosofia, Artes e Cultura/UFOP

Inscrições

Inscrições para participação como ouvinte podem ser feitas até 25 de setembro de 2012 taxa de inscrição: R$ 20,00 (Estudantes de Graduação) R$ 50,00 (Estudantes da Pós-graduação) R$ 150,00 (Professores, pesquisadores e demais membros da comunidade).

Submissões até o dia 15 de junho de 2012.


Normas

A Comissão Organizadora estará recebendo submissões de trabalho para apresentação de comunicações de 30 minutos (incluindo o tempo de discussão) em sessões paralelas. Propostas para comunicação devem ser enviadas na forma de um resumo com no máximo 400 palavras até o dia 15 de junho de 2012, juntamente com um pequeno CV (não mais que uma página) via e-mail para o seguinte endereço: nietzscheandkantufmg2012@gmail.com (Rogério Lopes/Giorgia Cecchinato). Favor usar o seguinte título para a mensagem: Submissão – Congresso Nietzsche e a Tradição Kantiana. As propostas podem ser apresentadas em português, inglês e espanhol. A seleção das propostas de comunicação pela Comissão Científica deverá ocorrer até o dia 10 de julho de 2012.


Local

Auditório Sônia Viegas, FAFICH/UFMG & UFOP (auditório a ser confirmado)

Endereço: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Av. Antônio Carlos, 6627, Cidade Universitária 4o. andar. Belo Horizonte - MG CEP - 31270-901 & Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC) - Rua Coronel Alves, 55. Ouro Preto


Contato

 nietzscheandkantufmg2012@gmail.com
(Rogério Lopes/Giorgia Cecchinato)


Site

terça-feira, 22 de maio de 2012

La Rochefoulcauld e a influência em Nietzsche


Breve introdução
Autor: Wagner França

No final do primeiro período filosófico de Nietzsche, o filosofo alemão entra em contato com alguns pensadores franceses: os assim chamados moralistas franceses por intermédio de seu amigo Paul Rée. Tais pensadores, sobretudo do século XVII e XVIII, possuem uma maneira distinta tanto em pensar o homem, como possuem uma forma peculiar de escrita; dada quase sempre em máximas, sentenças aforismos. Os moralistas franceses caracterizam-se por serem os “primeiros psicólogos” ou os “psicólogos franceses”, como são comumente chamados. Um dos fatores que pode ter atraído a atenção de Nietzsche foi a maneira como os moralistas entendem o homem.  Sua preocupação não reside na busca por uma verdade ontológica ou algum sistema fechado conceitualmente, muito menos em prescrever normas morais ou imperativos éticos de qualquer natureza. Os moralistas estudam o homem por ele mesmo; é aquele que se põe a margem da sociedade para se tornar espectador dos outros e dele mesmo, e assim podendo pintar os seus retratos. Na França do século XVII era comum  descrever os atos de uma pessoa ou sociedade através da “pintura de retratos”, que nada mais são que a descrição de um caráter. A partir desse momento quando é fortemente influenciado pelos moralistas franceses, Nietzsche muda drasticamente o seu modo de pensar desde então, assim como sua escrita, pois seus primeiros escritos possuem a forma de discurso contínuo, como por exemplo nas obras: O Nascimento da TragédiaA Filosofia na idade trágica dos Gregos e nas Considerações Extemporâneas, Nietzsche ainda não usa de forma plena sua mais famosa forma de escrita; o aforismo. O filosofo influenciado em decorrência de tais leituras, em sua obra seguinte altera o modo como escreve, dada em aforismos, e ainda mostra mais claramente a influência no titulo da obra: Humano, Demasiado humano.
Em O Andarilho e sua Sombra, na sessão 214, da obra Humano, Demasiado Humano II, ele afirmou: “ao ler Montaigne, La Rochefoucauld, La Bruyère, Fontenelle (sobretudo o Dilogue des morts), Vauvenargues, Chanfort, estamos mais próximos da Antiguidade do que com qualquer grupo de seis autores de outros povos.”[1]
 Nietzsche, segundo tal afirmação, aproxima os moralistas dos antigos gregos (pre-socráticos) no sentido de bem serem lidos e compreendidos, pois tanto a escrita como o foco de seu pensamento possuem as mesmas características. Entretanto um desses moralistas se destaca mais no gosto de Nietzsche, a saber: La Rochefoucauld.
Talvez o mais célebre dentre os moralistas franceses seja François, Duque de La Rochefoucauld (1613-1680). Sua obra, Máximas e Reflexões, publicada anonimamente na Holanda em 1665; logo na epígrafe uma crítica às virtudes, “Não são nossas virtudes, muitas vezes, mais que vícios disfarçados.”. Esse é o foco principal da obra do moralista, onde através de varias máximas e sentenças morais mostrará os mecanismos de nossas ações. As virtudes, para o pensador francês não passam de puro egoísmo e falsidade. A sua obra tem como principal tema a denúncia do amor-próprio e das falsas virtudes. O moralista atribui ao amor-próprio um papel dominante na motivação das ações humanas, e entende o amor-próprio como extremamente interesseiro e egoísta, tal característica atribuída ao amor-próprio revela que, mesmo nossas melhores ações, aquelas ditas como altruístas, as atitudes que aparentam uma compaixão e caridade, são no fundo, apenas ações que visam a uma adulação - um lucro. O pensamento de La Rochefoucauld, em relação à moral remete a esta temática, mesmo uma ação dita como correta e boa, está necessariamente ligada a uma concepção egoísta e falsa. Todavia, para o autor das máximas, é necessária tal falsidade, pois somente assim o homem pode receber e realizar “boas” ações. Nota-se na sentença 182 essa perspectiva, onde o pensador afirma: “entram os vícios na composição das virtudes tanto quanto os venenos na composição dos remédios: é a prudência que os ajunta e tempera, utilmente empregando-os contra os males da vida.” La Rochefoucauld inaugura uma era de desconfiança sobre a moral. Para ele, nenhuma moral seja ela tanto teleológica quanto deontológica irá de forma alguma romper com o caráter falso e egoísta do homem.
Evidente é a crítica realizada pelo pensador francês acerca da moral, que quase duzentos anos depois se desdobrará no pensamento refinado de Nietzsche, sobretudo no tocante a moral, pois ambos possuem de certa forma, uma concepção que remete a uma moral instintiva e nada racional. A influência abrange também a questão psicológica existente em Nietzsche deve em grande parte as alegações feitas por La Rochefoucauld ao longo de seus escritos, bem como sua refinada capacidade em perceber os elementos por traz de nossos atos.
Em suma, neste breve texto foi apresentado de modo extremamente breve uma maneira de demonstrar a influência dos moralistas franceses, em especial La Rochefoucauld no pensamento de Nietzsche.



[1] NIETZSCHE, Friedrich. Humano, Demasiado Humano: Um Livro para Espíritos Livres (vol. II) p.259-260.


A imagem:
Retrato do moralista francês François VI, duc de la Rochefoucauld.

domingo, 20 de maio de 2012

Aforismos 215 e 221 - Livro IV

Reunião do dia 25 de Maio de 2012
 Aforismo 215 - Moral dos animais de sacrifício.
Como podemos ver anteriormente em nossas reuniões, Nietzsche parece estar atento à questão da moral do sacrifício, e para reforçar o que nosso filósofo propõe com o aforismo 215 acredito ser válido ler novamente o que ele escreve no aforismo 18, disponível aqui em nosso Blog.
Basta clicar nas palavras destacadas para mais informações.

Para compreendermos esse aforismo devemos olhar um pouco mais atentamente para o título que Nietzsche escolheu - Moral dos animais de sacrifício – e nos perguntarmos, quem são os animais?

Nosso filósofo escreve acerca de dois tipos de sacrifícios, um deles é o sacrifício religioso onde pontua: “Na verdade, vocês apenas parecem sacrificar-se: convertem-se em deuses no pensamento e fruem a si mesmos como tal.”. Apontando que a intenção que vêm antes do sacrifício religioso é em prol de uma fruição de poder, o vincular-se com Deus como algo de grade egoísmo e desonestidade, uma vez que o que se visa não é o que se propõe. “Pois, ao dedicar-se entusiasticamente a ela e sacrificar-se, fruem o inebriante pensamento da união com o poderoso, homem, ou deus, ao qual se consagram: regalam-se no sentimento do seu poder, novamente testemunhado por um sacrifício.”.

Para que possam visualizar melhor tal ideia basta nos lembrarmos da imagem que foi postada anteriormente em nosso blog intitulada como “O Êxtase de Santa Teresa”.
A outra visão que Nietzsche busca trazer a tona é a moral do sacrifício daqueles que visam à racionalidade, uma vez que é necessária uma disciplina forte para alcançar o autodomínio exigido e escreve: “Do ponto de vista dessa fruição – como lhes parece fraca e pobre a moral “egoísta” da obediência, da obrigação, da racionalidade: ela lhes desagrada, porque aí realmente tem de haver sacrifício e devoção, sem que o sacrificante se imagine transformado em deus, como imaginam.”. Essa devoção à racionalidade pode exigir uma disciplina forte e sacrifícios, porém, a pretensão aqui é outra.
E conclui com a seguinte colocação: “Em suma, vocês querem a embriaguez e a desmesura, e a moral que desprezam ergue o dedo contra a embriaguez e a desmesura – eu bem acredito que ela lhes cause mal-estar!”.

Concluindo com a percepção de que Nietzsche parece defender o autocontrole e a disciplina, o controle de si mesmo e determinação de si, que seria o oposto do que narra com a concepção de relação mística e com a embriaguez da religião, mas não se enquadra em nenhuma dessas visões, como é de sua prática, apenas narra comportamentos.

Aforismo 221 - Moralidade do sacrifício.
Quando Nietzsche escreve: “A moralidade que se mede conforme o grau de sacrifício é aquela do estágio semi-selvagem.”, ele busca apontar que a moralidade vigente que visa o sacrifício tem suas raízes no estágio semi-selvagem, ou seja, anterior à racionalidade, onde se acreditava que para se obter determinados benefícios dos deuses era necessário praticar o ato do sacrifício e do sacrificar-se. Novamente vale lembrar que já trabalhamos essa questão anteriormente em nossas reuniões e os resumos acerca da visão de Nietzsche sobre o sacrifício está disponível aqui em nosso blog.
O segundo ponto desse aforismo se dá com o debate entre impulsos e razão, também já trabalhado anteriormente em nossas reuniões, disponível no resumo do aforismo 109 onde tratamos as seis formas de combater os impulsos, aqui ele coloca: “A razão obtém, no caso, apenas uma vitória difícil e sangrenta no interior da alma, há contra-impulsos violentos a serem derrotados; sem uma espécie de crueldade, como nos sacrifícios que exigem os deuses canibais, isto não acontece.”. O que ele diz com isso é que para conseguirmos dominar tais impulsos violentos tornou-se necessário a prática de grandes sacrifícios e é exatamente aqui que nosso filósofo coloca sua crítica. O valor que se dá à dominação de determinados impulsos se mede com a quantidade ou grandiosidade de sacrifícios que fazemos em prol dele.

Leituras necessárias para reunião do dia 01 de Junho:

Aforismo 246 - Aristóteles e o casamento.
Aforismo 263 - A contradição em corpo e alma.
Aforismo 272 - A purificação da raça.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aforismos 184, 189 e 207

Reunião do dia 18 de Maio de 2012
Livro III

Aforismo 184 - O Estado como produto dos anarquistas.
Aforismo 189 - A grande política.
Trataremos ambos os aforismos em um único resumo devido ao fato de discursarem acerca do mesmo conceito, o sentimento de poder. Porém tal conceito possui sentidos diferentes dentro da narrativa nietzschiana, em Aurora quando Nietzsche fala de sentimento de poder ele faz referência a um poder político, no caso da obra Genealogia da Moral nosso filósofo fala se voltando para um aspecto mais individual.
O ponto mais relevante nessas passagens é mescla que o filósofo faz com o plano político coletivo com o plano individual.

“E suportarão essas leis, com a consciência de que eles próprios as ditaram – o sentimento do poder, desse poder, é muito novo e atraente para eles, para que não sofram tudo em seu nome.”(AU §184)

No final da terceira dissertação da Genealogia da Moral Nietzsche cita um dito latino que em sua tradução expressa as seguintes palavras, “Sofre tu mesmo a lei que tu propuseste.”(GM III 27), ou seja, ser legislador de si mesmo.
No contexto da obra Genealogia da Moral Nietzsche se refere a um plano individual, já em Aurora faz referência a um autogoverno, no caso, os socialistas ou anarquistas. Aqui o filósofo está apontando a relação de mando e obediência em um plano coletivo e a disciplina terrível que tal legislação exige, pois o que fica em relevo a partir de tal reflexão é a luta de impulsos entre o que está legislado e o que se deseja.

“Por mais que o proveito e a vaidade, tanto de indivíduos como de povos, possam influir na grande política: a corrente mais forte que a impele é a necessidade do desenvolvimento do poder, que não apenas nas almas dos príncipes e dos poderosos, mas também nas camadas mais baixas do povo brota de vez em quando, de fontes inesgotáveis.”.(AU §189)

Fica nítido como nosso filósofo está seduzido por essa ideia e essa noção central de poder, que é o germe da vontade de poder, sendo o poder político referência ao conceito, uma vez que o poder é uma noção muito mais vasta para Nietzsche do que somente política, sendo muito mais cosmológica.
No decorrer de suas colocações percebe-se claramente a crítica que é feita aos socialistas e aos trabalhadores modernos, porém não oferece uma resposta para tal problemática, aqui mais uma vez ele demonstra sua preocupação com o futuro do homem e faz reflexões acerca da inquieta e extenuada Europa, buscando tocar nos pontos mais sensíveis de sua época e pensando os problemas das épocas futuras.

“Eu me curvo apenas à lei que eu mesmo fiz, nas coisas pequenas e grandes. Tantos experimentos ainda devem ser feitos! Tanto futuro ainda tem de vir à luz.”. (AU §187)

Nietzsche ainda não tem muita clareza acerca de seu projeto político e ético, porém ele se mostra muito decidido em fazer experimentos e em buscar respostas. Como sabemos, em Aurora o filósofo está em busca de novos caminhos e de novas auroras, buscando trazer à tona temas de relevância, no caso dos aforismos estudados o filósofo está preocupado com o momento histórico que vive a Europa, inquieta.  
Vale notar que quando nos voltamos para o aforismo “A grande política” podemos perceber que o filósofo se foca mais para um campo ético do que político, além de usar uma distinção entre bom e mal, que seria a distinção ética básica de Nietzsche.
Uma possível interpretação para “A grande política” seria que Nietzsche busca descrever a tentativa de uma nação em sobrepujar outras. Nosso filósofo estaria escrevendo de maneira puramente descritiva, de fatos já passados e dentro de um contesto nacionalista de lutas políticas, sem oferecer proposta alguma. Trazendo para seu texto as perdas que acarretam quando um estado tenta sobrepor-se a outros na tentativa de fazer uma grande política, demonstrando uma preocupação com um possível esbanjamento de poder, um exemplo desse comportamento temos em Napoleão.

Em Humano, demasiado humano, no aforismo 481 podemos encontrar novamente esse tema. Em Ecce Homo ele traz uma proposta política moral e escreve: “somente através de mim haverá grande política na terra.”. Em Aurora parece que Nietzsche descreve o que acontece quando um povo tenta colocar uma grande política. Vale relembrar o que foi visto no texto do mestrando Sdnei Pestano, intitulado "A concepção de grande política em Humano, demasiado humano", basta clicar no link para ser redirecionado.

“Quando o homem está com o sentimento do poder, ele se percebe como bom e assim se denomina: e precisamente então os outros, nos quais ele deve descarregar seu poder, percebem-no como mau e assim o chamam!”, fazendo uma comparação com Hesíodo que teria escrito de maneira a agradar todo seu público, tanto os que mandavam quanto os que obedeciam.
Quando nos voltamos para a discussão do que seria o nobre, Nietzsche se mantém firme acerca de sua concepção de hierarquia de forças, por mais que ele se volte para o poder político, quando fala em forte e fraco, dominador e dominado, nobre e escravo, ele está operando por esse viés, até mesmo quando se refere aos estados, os que dominam e os que são dominados, existindo sempre essa relação tensa de poder. Em Aurora ele tenta descrever essas noções de poder político da época, sem trazer, ainda, soluções ou apontar caminhos. Posteriormente ele demonstra certo anseio de unificação, por uma grande política, uma transvaloração que ainda não está presente em Aurora, a grande política que ele quer ainda não aconteceu e só irá acontecer a partir dele, o projeto para uma grande política está exposto em seu período tardio. Vale lembrar que nosso filósofo não é simpático a nenhum desses poderes políticos nacionalistas, dizendo que o grande erro de Napoleão foi o nacionalismo. Entre os Alemães Nietzsche vê Goethe como um evento europeu, porém sendo de um âmbito cultural e não político, sendo também um grande crítico de Bismarck.

Concluímos o resumo desses aforismos trazendo que novamente está exposto um sentimento de espírito livre vinculado com as preocupações de Nietzsche com o destino dessa Europa tão angustiada, refletindo sobre os grandes problemas da classe trabalhadora, as relações de poder e o sentimento de poder, mas ao mesmo tempo muito descritivo ainda, sem ter uma proposta de grande política aqui exposto.

Aforismo 207 - Atitude dos alemães ante a moral.

Aqui Nietzsche busca trazer a ânsia pela embriaguez, a necessidade do povo alemão em ter um líder forte, mesmo que isso se dê de maneira cega e nacionalista, basta buscar a memória a campanha de Hitler para assumir o poder para que possam melhor compreender o que Nietzsche está apontando neste aforismo. De maneira provocadora nosso filósofo escreve:

“Um alemão é capaz de grandes coisas, mas é pouco provável que as faça: pois ele obedece sempre que pode, como agrada a um espírito indolente. Se é obrigado a ficar só e abandonar sua inércia, (...) ele descobre suas forças: torna-se perigoso, mau, profundo, temerário, e mostra o tesouro de energia adormecida que traz em si, na qual ninguém (nem ele mesmo acreditava). Quando, neste caso, um alemão obedece a si mesmo – é a grande exceção , ele o faz com a mesma gravidade, inflexibilidade e persistência com que obedece a seu príncipe e suas obrigações oficiais (...).”
Mais adiante Nietzsche pontua:
“Habitualmente, contudo, ele receia depender apenas de si, receia improvisar, (...) – A leviandade lhe é estranha, ele é temeroso demais para ela; mas em situações inteiramente novas, que o tiram da sonolência, ele é quase leviano; então frui a raridade da nova situação como uma embriaguez, e ele entende de embriaguez!”

Nosso filósofo pressentiu já em sua época o que causaria essa cegueira nacionalista, para ele os elementos já estavam presentes, mesmo em um grau menos acentuado. Nietzsche pode perceber o movimento histórico, e tal capacidade é um dos vários fatores que destacam o filósofo o tornando tão interessante na contemporaneidade. A questão judaica já está sendo narrada como podemos ver no aforismo 205 “Sobre o povo de Israel”.

Conclui com as seguintes colocações:
“Se o alemão vem a achar-se no estado em que é capaz de grandes coisas, ele sempre se ergue acima da moral! E como não o faria? Ele tem de fazer algo novo, isto é, comandar – a si ou a outros! Mas a sua moral alemã não lhe ensinou a comandar! Nela foi esquecido o comandar.”.

Kant e seu imperativo categórico como uma categoria alemã, do obedecer, uma vez que o homem precisa ter algo a que obedecer incondicionalmente, no caso obedecer à lei moral que o homem estabelece enquanto um ser racional.

O ponto principal nesse aforismo se concentra na questão da obediência, se voltando contra a questão da disciplina. Ele conclui seu aforismo apontando para a necessidade dos alemães em aprender a legislar, tal tarefa que apenas narra em Aurora, sem construir sua prática, o que fará, por exemplo, na Genealogia da Moral, escrevendo acerca dos novos filósofos.

Aforismos 173 e 179 - Livro III

Reunião do dia 11 de Maio de 2012

Aforismo 173 - Os apologistas do trabalho

Não é por acaso que Nietzsche é um dos filósofos mais lidos da contemporaneidade e tal fato se faz compreensível devido a sua forma ácida e crítica de pensar, narrada através de seus livros. No aforismo 173, Os apologistas do trabalho, ele não trai sua fama, aqui, novamente, ele trás a tona um tema que pode facilmente ser debatido nos dias de hoje.. a glorificação do trabalho. Através de um processo histórico uma inversão de valores é notável, o ócio que antes era tido como benefício hoje é visto como algo prejudicial ou negativo, basta olharmos para o passado para notar tal distinção. Para que possam melhor visualizar tal ideia busquem a memória a Grécia antiga. Em que momento então ocorre essa inversão? Historicamente isso se dá através da revolução industrial, na primeira metade do século XIX, porém a Alemanha, terra de nosso filósofo, é um pouco tardia nesse aspecto, lá essa inversão ocorre na segunda metade do século XIX, que é a época de Nietzsche e ele estava atento para essas mudanças, podendo perceber com grande sutileza tal inversão de valoração moral, onde o trabalho passou a ser considerado como algo grandioso e glorificador, quanto mais um homem trabalha mais honrado ele é, o trabalhar era (já em sua época) tido como uma "benção". Porém, qual é o real papel do trabalho? Para nosso filósofo o trabalho é ferramenta de cegueira, impossibilitando os indivíduos de possuírem autonomia refletiva, mas ele não para por ai, além de tratar sobre essa impossibilidade ele narra a dificuldade na criação artística e intelectual. Esse tema não é novo, no jovem Nietzsche já vemos reflexões acerca da criação do gênio e definitivamente ele não acreditava que o trabalho colaborava para isso, muito pelo contrário, o ócio é necessário para o ato de reflexão e criação. Como podemos depois de trabalhar 12 horas por dia chegar em nossas casas e ainda ter tempo para apreciar uma sinfonia de Beethoven, por exemplo?

Para tratar um pouco mais a questão do gênio trago como indicação de leitura um texto da professora Rosa Dias, O Gênio e a Música em Humano, demasiado humano. Basta clicar nas palavras destacadas.

Qual seria a consequência de tal postura? O que acarreta ao homem essa laboriosidade moderna? O que podemos ver hoje nitidamente é um perfil de trabalhadores compulsivos, ou workaholic, onde o trabalho é tido como algo que enobrece, Nietzsche aponta isso como uma valoração moral e coloca sua posição como um anticapitalismo romântico, valorizando o ócio para a criação filosófica e artística, pois de acordo com ele é impossível surgirem filósofos, gênios e criadores uma vez o indivíduo enredado nessa visão social de que o trabalho é não só algo necessário como trivial para a vida, pois tal atividade consume muita energia nervosa e não há tempo para reflexões. Pode-se notar uma perspectiva nobre na visão do filósofo e ele narra também a perspectiva da modernidade espelhada pelos apologistas do trabalho que se dá não apenas na tradição luterana e moral, mas também com os próprios socialistas, onde o trabalho é colocado como categoria central para a emancipação do homem, Nietzsche então coloca, "terá mais segurança uma sociedade que trabalha duramente: e hoje se adora a segurança como a divindade suprema." O homem moderno quer a segurança acima de tudo e o trabalho organizado e bem estruturado propõe esse sentimento de segurança e bem estar social, porém a situação moderna é que os trabalhadores passam a exigir seus direito "E então! Que horror! Precisamente o "trabalho tornou-se um perigo! Pululam os "indivíduos perigosos! E por trás deles o perigo maior - o indivíduo!".
Aforismo 179 - O mínimo de Estado possível!

Tomemos o resumo acima como pressuposto para o que vamos tratar nesse aforismo. Aqui Nietzsche segue a mesma linha crítica que vimos no aforismo estudando anteriormente, e escreve: “Nenhuma situação política e econômica merece que justamente os mais talentosos espíritos se ocupem dela.”.
Mais adiante no mesmo aforismo podemos ver novamente a referência que faz ao sentimento de segurança que tal a situação narrada no resumo acima gera nos indivíduos: “O preço que se paga pela “segurança geral” é muito alto: e, o que é mais insano, com isso produz-se o oposto da segurança geral.”.
Conclui com as seguintes colocações: “Tornar a sociedade a prova de ladrões e de incêndio e infinitamente cômoda para qualquer trato e troca, e transformar o Estado numa espécie de providência, no bom e no mau sentido – estes são objetivos baixos, moderados e nada imprescindíveis, que não se deveria buscar como os mais altos meios e instrumentos que existem – os meios que se deveria guardar para os mais altos e raros fins! Nossa época, embora fale tanto de economia, é esbanjadora: esbanja o que é mais precioso, o espírito.”.
Faz-se a reflexão, será a contemporaneidade diferente da época de nosso filósofo?

Indicação de leitura:



Leituras necessárias para o encontro do dia 18 de Maio:
Livro III:
Aforismo 184 - O Estado como produto dos anarquistas.
Aforismo 189 - A grande política.
Aforismo 207 - Atitude dos alemães ante a moral.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Aforismo 130 - Livro III

Reunião do dia 04 de Maio de 2012
Aforismo 130: "Fins? Vontade?"


No  aforismo discutido em nosso encontro, Nietzsche apresenta a concepção costumeiramente aceita, de que existem dois reinos, nos quais transcorre a existência humana: o reino dos fins e o reino dos acasos. 


O primeiro diz respeito à capacidade que a vontade teria de interagir com o todo e alcançar determinadas finalidades; para que fique mais claro basta refletir acerca da concepção de finalismo (thelos) cristão, onde é colocado como pressuposto uma padronização comportamental em prol da finalidade almejada, neste caso a salvação eterna, ou seja, o paraíso. Em outras palavras, se nos afastarmos dos pecados condenados pelo dogma cristão e nos aproximarmos do padrão considerado "bom" dentro da doutrina cristã, teremos como recompensa a vida eterna no paraíso, porém isso implicaria, segundo Nietzsche, na dominação da vontade em prol de um fim específico.


O segundo trata do que seria o acaso, ou o reino do necessário. Para melhor compreendermos esta concepção vale a pena trazer à memória o mito grego de Édipo. Algo deve ficar claro, os fatos passados, a história não pode ser negada, o presente é sua consequência e para que eu ou você estivéssemos hoje exatamente onde estamos o passado precisou ser exatamente da forma que foi, não poderia ser diferente. Existe um caminho necessário das coisas, não há como mudar, mesmo que a vontade seja motivadora ela não tem o poder de interferir nos atos históricos. E caso a vontade cause determinada mudança, existe ainda a possibilidade de que tal ato já estivesse anteriormente inscrito ao encadeamento dos fatos decorridos até então. O processo histórico estaria submetido a um modelo que vai além das vontades particulares dos indivíduos, o próprio movimento do processo histórico está inscrito no caminho do necessário. No reino da necessidade não há autor, o próprio processo histórico é autônomo e independente de qualquer vontade. O cosmos não tem direção, não tem finalidade ou motor, são fatos encadeados que decorrem do seu estado anterior, causando assim outros seguintes, em um processo sem fim.


Uma questão que permaneceu aberta no final da reunião foi acerca da capacidade humana interferir ou não no processo histórico. Nietzsche coloca que o indivíduo está preso no emaranhado dos fatos da necessidade, portanto não teria autonomia ou seria responsável em causar impacto no todo, por outro lado o filósofo disserta que existe algo que a vida de cada homem consegue colocar em movimento e causar, desse modo, impacto no todo. Nosso filósofo só irá responder a tal impasse em seu período tardio, em Aurora esse debate permanece em aberto. O que fica claro é a conclusão, apontando a hipótese de que exista somente o mundo da necessidade juntamente com sua visão acerca da ação humana, não fazendo referência ao sujeito autônomo, cito Nietzsche: 


"sim, talvez haja somente um reino, talvez não exista vontade nem finalidade, e nós apenas as imaginamos. As mãos férreas da necessidade, que agitam o copo de dados do acaso, prosseguem jogando por um tempo infinito: têm de surgir lances que semelham inteiramente a adequação aos fins e a racionalidade. Talvez nossos atos de vontade e nossos fins não sejam outra coisa que tais lances - e nós somos apenas muito limitados e vaidosos para apreender nossa extrema limitação: a saber, que nós mesmos, em nossas ações mais intencionais, nada fazemos senão jogar o jogo da necessidade."

Aforismo 130, Livro II, página 99, Aurora


Creio ser válido trazer o mito grego de Édipo para elucidar o que estamos trabalhando e apontar a concepção dos gregos acerca do reino da necessidade, basta clicar no link destacado que uma nova página será aberta trazendo sua história em mais detalhes para aqueles que não se recordam.



Finalizo essa postagem com uma passagem do mesmo aforismo, onde ele aponta a figura do gigante como sendo o reino dos acasos e da necessidade e a figura dos anões como sendo à vontade:


“Esta crença nos dois reinos é um romantismo e uma fábula antiquíssimos: nós, inteligentes anões, com nossa vontade e nossos fins, somos irritados, atropelados, muitas vezes pisoteados até a morte pelos gigantes estúpidos, mais que estúpidos, que são os acasos.”

Leituras necessárias para o encontro do dia 11 de Maio:

Livro III:

Aforismo 173 - Os apologistas do trabalho. 

Aforismo 179 - O mínimo de Estado possível!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Aforismos 112, 115, 116 - Livro II

Reunião do dia 27 de Abril de 2012


Aforismo 112 - Contribuição à história natural do dever e do direito. 

Como já sabemos, em Aurora Nietzsche não busca formar conceitos e sim trilhar novos caminhos experimentais, nesse aforismo fica nítido que o filósofo começa a melhor desenvolver seu conceito de vontade de poder, porém, tal ideia ainda não ganha corpo, é apenas um vislumbre do que no decorrer de suas obras e pensamento ele melhor estruturará.

Dois pontos valem a pena serem ressaltados com relação a esse aforismo. Primeiro que Nietzsche não faz referências históricas determinadas, dando margem a interpretação de que sua narração seja válida para qualquer período histórico. Segundo com relação à escrita que o filósofo utiliza, além de criar expressões por conta própria, ele dá uma nova releitura a palavras antigas, tornando necessário certo cuidado ao ler sua obra, palavras entre aspas e itálicos trazem conotações diferentes.

Os temas trabalhados nesse aforismo são em demasia abrangentes e complexos, por consequência, algumas questões permaneceram em aberto para debate e questionamento, vamos tentar nesse resumo trazer os pontos principais do que foi estudado e deixar o espaço dos comentários abertos para perguntas e discussões.

O erro do livre arbítrio: Como podemos perceber a partir das seguintes linhas "O mesmo erro bem poderia se achar em ambos os lados: o sentimento do dever depende de partilharmos, nós e os outros, a mesma crença quanto á extensão de nosso poder: de sermos capazes de prometer determinadas coisas, de nos comprometermos em relação a elas ("livre arbítrio")." Nietzsche aponta como um erro a ideia de livre arbítrio, erro este que alicerça toda a organização de poder, porém, ressalta que tal erro se faz necessário, sendo esse mesmo erro algo positivo e benéfico, sem o qual a vida em sociedade seria impossível, caso contrário haveria uma guerra de todos contra todos. Um questionamento que aparece seria a definição de liberdade e livre arbítrio e o que difere esses dois conceitos em Nietzsche, ou até mesmo o questionamento se existiria livre arbítrio na visão do filósofo, fazendo a relação com o aforismo 109 intitulado "Autodomínio e moderação, e seu motivo ultimo" onde o filósofo aponta as seis maneiras de manipulas os impulsos.

A ideia de poder: A visão de Nietzsche acerca da justiça, direitos e deveres é significativa para a construção da concepção de vontade de poder, sendo esta última um jogo de forças. A justiça não necessariamente visa um bem comum social e sim quem tem a maior força para criar tais direitos e deveres, no caso, a balança pesa a distinção de poder, os direitos e deveres serão medidos em comunhão com o poder exercido. Nota-se que se não existem deveres a moral se perde. Uma forma de exemplificar tal concepção é a figura de Napoleão.

Em relação à  moral: surge da ação de "escapar aos perseguidores e ser favorecido na busca da presa" (página 29 - aforismo 26); habitua-se aos costumes de determinada comunidade e em última instância está vinculada aos impulsos. Futuramente será disponibilizada uma postagem dedicada unicamente em explicar a questão dos impulsos.

Para a questão do orgulho faço uma conexão entre Nietzsche e La Rochefoucauld, é válido pensá-lo da seguinte maneira, sendo o orgulho o maior defensor do "amor próprio", uma vez tomando o "amor-próprio" como o maior dos aduladores no homem.

Os impulsos enquanto um se sobrepondo ao outro, onde o mais forte subjuga um mais fraco, criando um dinamismo de criação e aniquilação de impulsos. Creio ser válido fazer uma ligação com a máxima 10 do livro “Máximas e Reflexões” de La Rochefoucauld onde ele escreve "Há no coração humano uma germinação perpétua de paixões, de modo que a ruína de uma é quase sempre o estabelecimento de outra." Através da leitura do aforismo a pergunta que se faz é: o impulso possui poder de escolha?

Relação Prática e Boa vontade: São através das seguintes palavras que se surgem os maiores questionamentos acerca desse aforismo: 
"- O "homem justo" requer, continuamente, a fina sensibilidade de uma balança: para os graus de poder e direito, que, dada a natureza transitória das coisas humanas, sempre ficarão em equilíbrio apenas por um instante, geralmente subindo ou descendo: - portanto, ser justo é difícil, e exige muita prática e boa vontade, e muito espírito muito bom. -". 
Sou livre para praticar? Que boa vontade é essa? Qual é a possibilidade de dominação de impulsos para a prática através dessa "boa vontade"? Pois aqui ele abre a possibilidade da prática, o que implicaria na dominação de determinados impulsos. O que seria o espírito bom? Seria uma combinação de forças? 

Aforismos 115 - O assim chamado "Eu".
Aforismo 116 - O desconhecido mundo do "sujeito".

Nietzsche está levando a discussão para fora do caráter da escolha colocando os impulsos, ou instintos, como soberanos e desvincula o conhecimento das coisas com os atos morais, pensamento este que gera ao filósofo a consideração de “imoralista”, pois para a moral existe a possibilidade de escolha, liberdade essa que Nietzsche desconsidera. Para clarear o que estamos tratando basta visualizar a figura de Napoleão e compreender que ele não poderia agir diferente da maneira que agiu, pois não existia outra possibilidade de escolha. Nessa perspectiva, como a racionalidade atua?

Para melhor compreender a questão da racionalidade voltemos para o primeiro aforismo do livro I, intitulado Racionalidade a posteriori onde se lê: “Todas as coisas vivem muito tempo embebem-se gradativamente de razão a tal ponto que sua origem na desrazão torna-se improvável. Quase toda história exata de uma gênese não soa paradoxal e ultrajante para o nosso sentimento? O bom historiador não contradiz continuamente, no fundo?”.

Leituras necessárias para o encontro do dia 04 de Maio 

Livro II
Aforismo 130 - Fins? Vontade? 
Aforismo 132 - Últimas ressonâncias do cristianismo na moral.